Ó meu Deus, que fácil esquecer as graças e concentrar-me no vale de sombras. Usei-me tanto do Vosso bordão que o pus de lado, pensando na minha indignidade de Vós. Não me levou longe o caminho. Não foi soberba. É o cansaço. A desesperança que é mais fácil do que a esperança de força. O madeiro é tão pesado, meu Deus. Caio tantas vezes no íngreme do chão áspero. O calvário é um sítio solitário mesmo que rodeado de gente. Concentro-me no lajedo e não nas caras porque a caminhada é penosa e é só minha.
Sabíeis que eu ia passar. Passo ali tantas vezes. Na pressa. Nos pensamentos outros. No alheamento. Tantas vezes que ali passei e nunca pensei entrar, e nunca a porta vi aberta. Acho que foi também o eu querer ir ter Convosco e não saber como ou não querer o como habitual e passado. Talvez que fôssemos os dois a abrir a porta naquela hora quando eu já me vinha embora e me detive porque me apeteceste.
Falei-Vos como sempre. Sem intercessões, como se Vos tivesse falado na familiaridade do ontem, quando o ontem está distanciado. O silêncio acolheu-me como entidade presencial. Não me sentia assim há tanto tempo. Agradeço-Vos aquela porta vestida de adamascado dançando na brisa do final da manhã. Perdoai-me por não pedir ajuda. Inspirai-me. Ajudai-me a reencontrar o ânimo de nada temer porque estais comigo. Perdoai-me precisar de Vós depois de todo este tempo. E perdoai-me ousar pedir perdão por me ter esquecido de Vos pedir o que, afinal, preciso. Amén.
2 comentários:
É bom encontrar esta porta aberta. Acho que nunca se fecha.
Também entrei. E gostei muito.
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