Vou subir à capela empoleirada no alto do monte bem por trás da minha casa. Tão perto e tão longe. Fui lá uma vez nos meus doze, treze anos. Caçava borboletas para a colecção e os matos do monte abrigavam espécies de asas grnades e coloridas que não s eviam cá em baixo. Depois veio a vida. As outras lonjuras, as costas voltadas para tudo isto. E agora só resto eu aqui. Morremos e partimos de vez. Eu fiquei só porque sim, porque alguém tinha de o fazer, ou porque eu pensei que alguém tinha de o fazer. Hoje voltei a subir lá acima. A vila agigantou-se lá em baixo.
Há casas dispersas nos campos e muitos ao abandono. Mas ainda há coisas de que me lembro. Os cactos selvagens cheios de figos, as vinhas, os restolhos das searas. Como as últimas amoras da estação, lavadas pelas chuvas dos últimos dias, maduras de Outono. E passo pelas quintas, os cães que me labram pela intromissão nos seus espaços de guarda. Há tinas acabadas de vir das vindimas. Ando e ando. Não verbalizo passados mas vejo-os ante os olhos. Tempos outros de cujos futuros eu nada sabia e hoje sou o futuro. Sim, tão perto e tão infinitamente longe. Gostei tanto do passeio por estes espaços perto, no sol morno e brisa suave. Aqui da janela da biblioteca que já foi do Pai e agora é minha vejo a capela no cimo do monte. Recortada no céu azul num contraste que conheço de cor. Engraçado pensar que subi lá ainda agora. Pode ser que lá volte em breve. Afinal, eu fiquei...