Acho que, nestes dias loucos e insanos, muita gente se deve perguntar que coisas faz esta classe tão estereotipada e mal amada e ainda menos conhecida. Vejamos:
- 7.30 (da manhã, claro) - chego à faculdade;
- 7.30-8.15 - ponho mails em dia que me chegaram durante a noite de outros fusos horários;
- 8.15-9.45 - dou a primeira aula do dia;
- 9.45-10.00 - tomo café que também mereço;
- 10.00-11.00 - reunião;
- 11.00-12.50 - trato de expediente (recebo alunos, tento concentrar-me num orçamento em dólares e respectivas folhas Excel, atendo o telefone, faço chamadas, leio uma legislação urgente porque também estou a preparar burocracias e stresso);
- 12.50-13.20 - almoço (packed lunch que trouxe de casa);
- 13.20 -13.30 - lavo os dentes e componho-me para a tarde (convém, não é?);
- 13.30-15.00 - dou mais uma aula (turma particularmente gigante);
- 15.00-15.30 - vou buscar o dossier da minha mestranda que vai defender tese, encontro-me com o júri, certifico-me de que tenho tudo e chego uns minutos antes da defesa à sala para ver se está tudo em ordem;
- 15.30- 16.40 - sou presidente de júri e orientadora da mestranda que defende a tese (é aprovada e respiro de alívio por outro trabalho concluído);
- 16.40-17.00 - levo o júri para tomar café (a boa educação ainda é o que era e a cordialidade ainda é o que me caracteriza);
- 17.00-18.00 - tento voltar às folhas de excel, ao orçamento, abro mais milhentos mails, peço pdfs, confiro documentos urgentes, stresso;
- 18.00-19.30 - dou nova aula (turma mega-gigante que só cabe em anfiteatro);
- 19.30-20.00 - recebo alunos de pós-laboral no meu gabinete, tiro dúvidas, mostro testes a quem faltou, já vi que não vou ter tempo para voltar aos documentos abertos no computador, desligo o computador;
- 20.00-22.00 - dou a última aula do dia (turma de mestrado e gente tão cansada como eu mas todos fazemos um esforço por sorrirmos e falarmos e aprendermos uns com os outros);
- 22.00-22.10 - desço o elevador para a garagem com um aluno de mestrado que aproveita para me falar de ideias que teve para tese;
- 22.10 - finalmente meto-me na carrinha e regresso a casa;
- 22.50 - chego a casa, a fome passou-me há muito e não tenho espírito para jantar; faço zapping para descontrair e não me apercebo das horas a que me deito. Amanhã há mais: há as folhas de excel, há o orçamento, há os documentos com estatutos para continuar a redigir, há aulas para preparar, testes para fazer, mails por abrir, urgências, pendências. No meio, a falta de tempo para a investigação, os dois capítulos que duas editoras estrangeiras me pediram com prazos para ontem, os orientandos, e tudo e tudo.
Isto, para quem não sabe, é a vida de professor universitário. Nada de privilégios, nada de suavidades contemplativas, muito stress, muitas responsabilidades, muito pouco tempo. Se vale a pena? Ainda há uns de nós que gostamos apesar dos imensos apesares...
3 comentários:
Fez bem em fazer a descrição, porque há muita gente que pensa que ser professor universitário é ter a vida do Marcelo. Ou de alguns deputados, directores gerais e outros que tais, que vão à Faculdade dar umas aulinhas , com o espírito dos motoristas de taxi, quando vão fazer mais uma corrida.
Bom fds. Pelo menos não há aulas...
Como colega de profissão confirmo, quase ao minuto.
Qualquer área profissional, se for levada a sério, implica trabalho e dedicação. E isto é válido para qualquer área mesmo, seja o trabalho de índole física ou intelectual ou qualquer combinação das duas em qualquer percentagem...
Não se deixem nunca convencer do contrário. e Isto é válido para professores (Universitários ou outros), ou para varredores de rua, ou para polícias ou para engenheiros, ou para militares, ou para médicos, ou para enfermeiros, ou para jornalistas, ou para ...
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