Irrita-me que sejamos tão solícitos no nosso servilismo. Irrita-me que estejamos sempre a precisar dos outros para nos salvarem de nós próprios e dos nossos desatinos. Irrita-me que sejamos um país infantilizado e auto-amesquinhado. Irrita-me que tenhamos medo e que achemos sempre que há nações melhores e mais fortes que nós. Sim, também me irritam os brandos costumes. Mas, lá está, eu sou alemã na mesma medida em que sou portuguesa.
Claro que me irrita ver a Chanceler Merkel aqui metida. Acho mesmo que hoje enxovalhamos a nossa soberania. Mas somos nós, principalmente, os responsáveis por este capítulo que agora vivemos colectivamente.
Demonizamos a Chanceler, como demonizamos os alemães, porque desse modo nos esquecemos das nossas fragilidades. Os bodes expiatórios são sempre muito convenientes quando nos queremos esquecer de coisas que nos magoam porque partem de nós.
Irritam-me as reportagens ridículas sobre os alemães que vivem em Portugal e sobre os portugueses que foram para a Alemanha, como se essas generalizações nos dissessem que os alemães, afinal, não são assim tão maus, nem os portugueses assim tão inferiores.
Irrita-me ter vergonha de ser portuguesa e ter vergonha de ser alemã porque não há meios termos nestes dias conturbados em que vivemos. Se sou portuguesa tenho de lidar com o paternalismo dos outros que nos pensam uns coitadinhos dentro da Europa. Se sou alemã, sou um papão igual a todos os alemães, uma coisa fria e insensível.
Sim, hoje estou bastante irritada porque a Europa unida do pós-Guerra foi apenas uma utopia.
4 comentários:
Querida Blonde, até compreendo um bocadinho a tua dicotomia...
Venho lançar-te um desafio para te animar: já te inscreveste no mega Jantar de Natal da Blogosfera?
Passa lá na Turista para saber os pormenores.
Beijinhos grandes. :)
Sehen Sie doch Ihren Zwiespalt AUCH aus dem positiven Aussichtspunkt !
Posso assinar por baixo? É que na verdade, como já escrevi diversas vezes, a culpa é mesmo nossa, embora não pelas razões que o nosso governo esgrime. Apenas por sermos canastrões, um bocado cobardes e não termos amor próprio.
Eh, valente Blonde!
Muito bem!
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