31 de dezembro de 2012

Fim do Ano

Ano banal em que o muito de bom foi tido por garantido sem se sobrepor à fealdade cansativa dos dias atrás de outros, aos problemas, angústias e ansiedades.
Claro que houve dias azuis. Houve os sorrisos do Manel que começou a andar. Houve a notícia de que a Margarida vai chegar na Primavera que vem. Houve vida e há esperança. Houve um Alentejo ensolarado, aviões para outros destinos, a consciência dos privilégios. Escrevi de jacto fantasmas e entranhas. Vivo nesta Casa imersa em passados de que não me desfaço e presentes que construo. Viajei até mim quando peguei na carrinha e fui aos sítios que abandonei prometendo nunca regressar. Estavam à minha espera no abandono e enchi-me do seu ar. Perdoei-me. Entrei por uma porta aberta com reposteiros de damasco. Chamavas-Me porque não desististe de mim e da minha humanidade. Lavei-Te os pés e confortaste-me. E tudo isto é bom.
Porém, o que me fica é a sensação vazia. As esperas que continuam sem fim, o país abatido que me contagia e as asas encarquilhadas. Tenho tudo e sinto-me sem nada. Gostava de me saber contentar, pôr um ponto final em anseios, dar-me por feliz com este tudo mas não consigo. O horizonte é sempre mais à frente, a escada tem sempre mais degraus. E depois há o medo de perder o tudo. Sim, 2012 foi um ano de banalidades arrastadas. Estou grata mas a alma irrequieta-se-me. Venha 2013.

30 de dezembro de 2012

The bridges of Madison County

Quando eu vi o filme antes de ter vivido pensava: nada disto é possível e não acontece assim. Agora que vi o filme depois de ter vivido penso: tudo isto acontece assim mas não é possível.

Acho que já vivi umas coisas...


28 de dezembro de 2012

O que eu gosto mesmo

O que eu gosto mesmo, mesmo é ir trabalhar oito horas para a faculdade quando toda a gente está de férias e ensarilhar o raio do fio do auricular do telemóvel no volante da carrinha e sobreviver para contar a história! Isto ele há dias... Life!

24 de dezembro de 2012

Árvore '12




Este ano a árvore é uma pernada de nespereira que o Pai podou num dia que me apareceu aqui com a fúria agrícola a dizer que o meu jardineiro não percebe nada de árvores. Enfim, coisas de Pai. Já a decorei e enfeita agora a sala de jantar onde nos vamos juntar para o Natal. Mas este ano o que a árvore tem de especial são dois embrulhos de Tia que estão debaixo dela: um diz Manel, o outro diz Margarida. O Manel está cá há dois anos felizes e a Margarida virá com as flores da Primavera. Sim, vai ser um Natal jubiloso no muito de vida nova que nos desponta. Estou grata.

A todos vós, um feliz Natal: paz, saúde, e vida. São os votos da,

                                                                                    Blonde

 

22 de dezembro de 2012

Quando eu sei que me amam



Sei que me amam quando me aparecem cá em casa com uma caixa de sapatos com rosas. Debaixo das rosas estão dúzias de ovos aqui do campo embrulhados, um a um, em papel de cozinha. E, por debaixo de tantos ovos, uma box com um fim-de-semana no Alentejo. quando os estranhos das nossas vidas nos entram casa adentro para deixarem de ser estranhos também só temos de amá-los.
É Natal!

19 de dezembro de 2012

MARGARIDA

Margarida. A Tia pronuncia o teu nome e dá-lhe todas as nuances, repetindo-o vez atrás de vez. Vais chamar-te Margarida. As forças do Bem venceram. A  Tia sugeriu e pensava que tinha de ir batalhar mais para a tua mãe mudar de ideias. Mas é assim: Margarida. Os resultados da amnio vieram e dizem que estás bem aí ao quentinho. Sabes o que a tua mãe disse à Tia? Que agora podemos sonhar livremente contigo. Sonhar contigo...
Margarida. Adoramos-te. Este ano já estarás connosco no Natal. A tua presença. Para o ano vamos ter-te no colo e no outro, tu e o teu mano correrão pela casa da Tia a fazer um escarcéu. A Tia vai adorar o vosso escarcéu, sabes? Ver-vos a tirar as bolas da árvore e a destruir embrulhos e a esconderem-se debaixo da mesa como a tua mãe e a Tia faziam quando eram pequenas. A mesa que tem bonecos feitos pela mãe e pela Tia e que terá bonecos feitos por ti e pelo mano.
Margarida. Adoro o teu nome. E sabes o que a Tia mais vai gostar de dizer na vida? "Os meus sobrinhos, o Manuel e a Margarida". A Tia mal pode esperar que chegues na Primavera. Já falta pouco. E agora que a Tia já é experiente nestas coisas de ser Tia ainda vai ser mais fixe haver um novo bebé entre nós. Vai ser tão fixe..., Margarida.

P.S. - Margarida, a foto que a Tia tirou é a primeira foto do teu álbum, a foto das margaridas que a Tia deu à mãe no dia que soube que ias ser Margarida.

15 de dezembro de 2012

Temos juízes que são uma nódoa

Numa das audiências do meu interminável processo de divórcio, a Juíz mandou-me descruzar a perna porque não admitia esse comportamento no "tribunal dela" mas deixou a advogada do meu ex-marido ter a perna dela cruzada. Já o juíz desta notícia (link abaixo) soltou um animal que partiu as pernas a um bebé de dois anos e o violentou sistematicamente, argumentando que era necessário fazer a reinserção social do abusador. Mas alguém me explica que raio de gente é esta que manda sentenças nos tribunais? Há hipótese de, com gente desta, um cidadão confiar na justiça portuguesa?
Aqui.

13 de dezembro de 2012

Cenas da vida de Prof.: A Prof. não fala Português

Qualquer aluno meu sabe que o meu Português não é nativo. Pois bem, estando a Prof. aqui a distribuir testes a uma turma com umas valentes dezenas de criaturas discentes em estereofonia que não se calavam:
- Calem-se lá um bocadinho, parecem umas baratas!
- Ó Professora, não é baratas. É gralhas...

12 de dezembro de 2012

Cenas da vida de Prof.: ring-a-ding do teste

- Senhoras e senhores, já sabem que não é permitido levarem os telemóveis para os vossos lugares. Queiram, por favor, desligá-los ou tê-los em silêncio durante a realização do teste.

E eis a banda sonora:
. Bruno Mars, "I think I want to marry you";
. Gotye, "Somebody that I used to know";
. Uma parvoeirada espanhola qualquer;
. Uma coisa que me pareceu Il Divo ou qualquer coisa igualmente má;
. Toques aos milhares.

Eu juro que falei Português desta vez!!

11 de dezembro de 2012

"É as claques."

Acho o cúmulo do desplante, que, por consequência, me deixa no cúmulo da irritação, que fechem a 2ª Circular para deixarem passar claques sei lá de quem, para o jogo sabe Deus de quem. Mas eu tenho de ouvir uma senhora polícia mandar-me parar e dizer: "É as claques"? E eu cidadã naturalizada deste país tenho de obedecer a uma estupidez destas?
E foi assim que, entrando eu na dita artéria lisboeta, me vejo de súbito reduzida à espera que os meninos das claques, que não têm nada melhor para fazer a uma Segunda ao cair da noite, e empatam os outros que têm, entrem lá para o estádio do raio que os parta. É que os vinte minutos à seca custaram-me a aula de Fitball pela qual eu tinha suspirado todo o santo dia em que trabalhei que nem louca para ver se o país produz alguma coisa. Coisa, diga-se, que os meninos das claques certamente desconhecem.
Estou a chispar faúlhas de tão danada!

10 de dezembro de 2012

Excesso de universidades

Rarissimamente concordo com o Henrique Raposo, mas desta vez até lhe reconheço razão. Portugal tem excesso de universidades e politécnicos e isto pulveriza não só a oferta como a qualidade da mesma. Pior, ainda, é que, num momento em que se discute a "refundação" do Estado Social, as boas universidades levam os mesmos cortes cegos do que as "outras", as que têm cursos que não interessam a ninguém, as que têm corpos docentes menos qualificados, as que têm alunos menos bem preparados no momento de ingresso e demais etcs. Não é porque eu faço parte de uma das melhores, senão da melhor, universidade do país que me arrogo esta sobranceria, é porque, francamente, não percebo quando se diz que temos, neste momento, a geração mais qualificada de sempre. Parece-me, sim, que temos a geração mais certificada de sempre, que é algo completamente diferente. E esta geração é fruto de uma Macdonaldização do ensino que se instalou aqui nas últimas décadas.
Entendo que Portugal, como é hábito, estava na dita cauda da Europa no que toca à formação/educação dos seus cidadãos, mas esta cogumelização da Universidade só veio fazer número, não trouxe grandes mais-valias. Estamos, pois, perante um cenário em que a estatística se sobrepõe ao bem último que seria a efectiva qualificação das novas gerações. E agora quem vem pôr ordem na casa com o menos sangue possível?
Aqui.

7 de dezembro de 2012

É uma menina!!!


A Tia ficou a saber pelo Natal e não há palavras, só alegria que não tem verbos. És uma menina! Uma menina que vai ficar com as jóias da Tia uma dia quando fores grande e a Tia morrer. E a Tia tem as jóias da Avó Vina que não vais conhecer Aqui mas que te ama desde sempre. E a Tia tem as jóias da Bisavó Ária e da Bisavó Matilde e és tu que as vais herdar. Pode parecer prosaico e comezinho mas a Tia pensava a quem ia deixar estas lembranças de nós e de quem somos. Assim, fica muito mais fácil dividir tudo entre ti e o teu mano Manel e a Tia pode morrer em paz e felicidade porque vais perpetuar a nossa matriarquia por mais uma geração.
Vais ser feliz connosco, como é feliz o teu mano. E nós vamos ter mais palavras para falarmos de nós: o meu filho e a minha filha, o meu neto e a minha neta, o meu sobrinho e a minha sobrinha. E a Tia exulta por estes plurais que nos vens dar. Ainda não tens nome, ao contrário do teu mano que, por esta altura já era o Manel como Manel nasceu. A Tia promete voto na matéria. Sabes que a tua mãe tem uma ideia exótica que a Tia não sabe onde possa ter nascido na cabeça dela. Mas descansa que a Tia está aqui para te defender como te vai defender pela vida inteira. A vida inteira...
Amo-te minha sobrinha. Anseio por ti como ansiei pelo teu mano. Vou pegar-te ao colo, comprar-te o teu primeiro triciclo e dizer-te para tirares a cabeça de dentro do tambor da máquina de lavar. A Tia vai apresentar-te ao Spotty e levar-te para o relvado para que os teus deditos sintam o toque de ervas e flores. Depois, mais tarde, a Tia vai levar-te a ti e ao mano por esse mundo fora e vais ver que vais gostar de ser um de nós.
Gostavas de ser Margarida? A Tia gostava de Violeta mas isso não vai poder ser. E Aurora, como a princesa? Julieta? Vá, ajuda a Tia a ter uma inspiração do que gostarias de ser. E, enquanto pensas, aí no quentinho da barriga da mãe, podes ouvir a canção de Natal que a Tia mais gosta, porque tudo o que a Tia gosta é Alegria. Alegria, como tu.

5 de dezembro de 2012

Outra das nossas tardes

1994/95. Eu e a Ältere Leute começámos aí. Eu estava no começo de tudo, ela era a representante da instituição e as últimas avaliações que se interpunham entre mim e o final do curso. Acho que, em bom rigor, tudo estaria destinado à relação profissional. Cada uma desempenharia o seu papel e depois eu seguiria com a vida e ela receberia mais gente como eu. Não foi nada disso. Ficámos. Somos.
Um dia ela descobriu que eu era Blondewithaphd e abrimos outro canal de comunicação. Continuamos. Ritualizamos a quadra natalícia com uma espécie de acordo tácito que implica chás e lanches por aqui e por ali em sítios giros de Lisboa. Houve uma fase de almoços mas há qualquer coisa de quente e maravilhoso que só chá e bolos proporcionam à alma humana. Nunca nos falta conversa neste hiato geracional que nos separa e, paradoxalmente, nos aproxima. Ontem tive pena da pressa da vida e de não ter podido deixar que a noite caísse connosco em conversa como é costume. Faltou-me a noite de inverno a dizer que era tempo de ir embora porque a noite é um epílogo natural.
Démo-nos coisas doces e coisas das nossas lavras, como lhes chamámos. E ela deu-me "saudades" no mais literal que as saudades possam ser. Mas mais que isso, deu-me palavras que lhe são o Natal: "Ormai tra figlie, nipoti e altre persone..." e eu fiquei a pensar que, se calhar, também sou um pouco essas "altre persone".
Já estou com saudades...

3 de dezembro de 2012

A eterna dicotomia da loura inteligente

Parece que, afinal, a Marilyn Monroe lia Joyce, escrevia poemas (com erros ortográficos mas quem é que é perfeito?) e tinha uma biblioteca com mais de 400 livros. Também já li algures que tinha um QI acima da média. Parece, portanto, que nada impede que uma bombshell platinada não possa ter uns laivos de intelectualidade. O que acho sempre esquisito é que nunca ninguém precise de justificar a intelectualidade nas morenas. Mas, enfim, a Monroe também não seria lá grande candidata ao Nobel.
Aqui.