Esquecida por completo, a data. Eclipsado do meu pensamento, o acontecimento. Lembrei-me apenas por um instante durante o dia quando tive de assinar a data. Depois evaporou-se. Voltaria a lembrar-me de forma mais consistente já o dia se transformava noutro. Conscientemente comparei felicidades. A mesma data com catorze anos de intervalo. Ontem fui incomensuravelmente mais feliz do que há catorze anos.
Ainda pago o preço da fugacidade e da felicidade enganadora daquele dia mas já consegui esquecer que aquilo existiu. Mal sei quem era a criatura que se deu àquilo no meio dos cacos que a perda maior tinha deixado. Talvez tenha sido uma fuga para a frente. Andar com a vida no botão fast forward para esquecer aquela amputação e aquela forma de vida irreconhecível com que nos defrontámos. Seja como for, não quero lembrar-me porque me dói: a perda, sempre, e o passo mal dado. Perderia mais ainda do que achava ter perdido mas a verdade é que sem tudo aquilo, ontem não teria existido. Como não teriam existido dias no entretanto, dias que validam saudades futuras.
A Mãe está sempre lá quando eu estou mais feliz. Ontem a Mãe esteve lá, no Demis Roussos e nos Abba, mas foi só por coincidência, daquelas que não existiam na outra existência evaporada. Mas ontem não valeu só pela Mãe, que me passou pelo coração apenas como brisa. Ontem foi a antítese feliz de um dia passado há catorze anos. Que eu tenha vivido para viver essa data no esquecimento é glória. Ámen.
1 comentário:
Blonde, (em parte...) fiz-te e faço-te companhia.
Quando os sonhos de um dia morrereram, quando vemos e conhecemos a realidade, (as duas realidades...) temos de escolher, sofrendo eu hoje queria a outra, mas digo-te: até que enfim...!
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