20 de maio de 2013

Chegar

Saí ainda a minha sobrinha não tinha 48 horas. Pela primeira vez na vida tive saudades de bebés: dela e do meu sobrinho de 2 anos. Quando o meu sobrinho nasceu estranhei tudo. Pensei que me ia apaixonar por ele mal o visse, que era tudo como nos filmes. Estranhei aquele bebé que nos entrava vida adentro para nos mudar o vocabulário e fazer parte de uma família amputada que andava há anos naquela dor fantasma do membro amputado. Estranhei a mana mãe e o pai avô. Estranhei-me tia. Amei-o porque ele era um de nós, porque era pequenino, porque nos era filho, neto e sobrinho, porque tinha os genes e os dedos da avó que nunca conhecerá aqui. O encantamento veio aos poucos.
Com a bebé Margarida foi tudo diferente. Amei-a de paixão ainda não lhe tinha visto o rosto e ela era só um embrulho num berço na maternidade. Amei-a naquele instante como a vou amar para sempre.
Parti e, sem saber como é que aconteceu, levei os meus sobrinhos colados ao coração em saudades físicas que parecia fazerem de mim mãe-tia. Afinal se há tias-avós, não poderá haver mães-tias?
Tive saudades do regresso porque ao cabo da viagem estariam os pequeninos. Gostei do que senti.

No resto, foi bom passar uns dias num país liberto de austeridade. Claro que há crise e preocupação mas não há este desânimo que nos tolhe em Portugal. Não há sensação de desprezo e desconfiança que temos para com os políticos. As pessoas têm filhos e famílias grandes porque têm confiança nos dias vindouros e na protecção social de um país de extremos que só sobreviveu às eras, às invasões, às ameaças do vizinho russo, ao solo pobre e gelado, à noite nórdica e ao inverno de rigores porque se alavancou no colectivo. São frios e bisonhos os finlandeses. São, mas são focados no social, no pragmatismo da sobrevivência e na cultura do não desperdício: nisso são vencedores.
E nós? Nós andamos a ouvir comparações assombrosas neste discurso público da moda em que dizem que devíamos seguir o modelo finlandês. Só gente sem o mínimo de entendimento sócio-cultural poderá embarcar neste tipo de veleidade comparatista que acha que pólos disjuntos se podem comparar.
Vendo os finlandeses ainda mais receios tenho do que nos vai suceder: um povo sem renovação de gerações, sem empregos, sem perspectivas e sem ideias. Podemos até sair desta crise económica mas vai bater-nos à porta uma crise bem pior, a da nossa sociedade sem gente. E vai bater-nos à porta bem mais cedo do que imaginamos...  

1 comentário:

Goldfish disse...

Eu sei que há tias-mães porque tive uma (não sei se já to disse) e sei que é uma benção.