Saber que o governo grego encerrou a televisão e a rádio públicas é talvez o momento que mais me assusta desde que toda a crise começou. Por cá, o governo, presumo, não terá nem intenções nem liquidez para cumprir com o acórdão do Tribunal Constitucional que prevê a restituição de subsídios a funcionários públicos e pensionistas. Vivemos tempos estranhos em que a lei, a justiça e a justeza são meras banalidades e empecilhos às governações.
A geração da Guerra e dos totalitarismos que varreram a europa do século XX está a morrer. A memória está a morrer e estamos a ficar entregues a gente sem preparação humana que evite o que o humano tem de pior. Vejo as minhas tias morrerem, as minhas tias que sofreram os bombardeamentos, que assistiram às execuções sumárias, que fugiram a nado da Berlim ocupada, que passaram fome e ficaram sem nada e sinto que nos distanciamos desses tempos que se vão calar em passado de livros de História. É impossível não comparar estes nossos tempos com os que se viveram no pré-Segunda Guerra. A ascensão totalitária ante a passividade das populações.
Não sei para onde estamos a caminhar mas certamente que os tão ultimamente apregoados momentos pós-troika não serão felizes. Vejo-nos na beira do precipício civilizacional e temo.
Cresci inculcada do medo da guerra. Vivi sempre em casas com bunkers e aprovisionamentos porque o medo da guerra não se afasta assim. Mas morreu já quem me incutia o medo da guerra e da desagregação social. Morreu já, ou está a morrer, quem, através do medo, cimentava a vida que nos foi possível no pós-Guerra: a vida de progresso humano para o que o humano tem de bom. Os direitos do Homem, a paz entre nações e todos os sonhos que só poderiam nascer do pesadelo.
Olho para tudo isto e penso no que sentiria a minha Mãe se fosse viva, a minha Tante Henny se fosse viva, o Willy Brandt se fosse vivo. Olho para tudo isto e penso como se sente a Tante Ruth ou o Jacques Delors. O que se criou a partir de escombros está a esboroar-se e o capítulo que se segue não augura uma "nova aurora" de democracias fortes e paz entre homens e nações. Talvez que precisemos mergulhar no caos para, tal cosmogonia, nascermos melhores das cinzas. Não é o que quero, acho-nos até bem capazes de evitar o caos, mas percebo o Hegel e a inevitabilidade de nada aprendermos com a História, agora que a História está a morrer.
3 comentários:
Com sua licença, vou divulgar no FB. Para que conste !
Reflexões doridas como esta sua fazem muita falta !
Sinto exactamente o mesmo e tenho maus pressentimentos quanto ao futuro. Os europeus estão a perder as suas referências e por arrasto a memória.
O mesmo se aplica a Portugal. Os jovens não sabem como era o país durante o Estado Novo e parece que ninguém está interessado em lembrar-lho. Pelo contrário, há quem tente mesmo reabilitar aquele período negro da nossa História. Muitos, apensa assentes na leviandade bebida em livros que, em profusão, reabilitaram um regime hediondo.
Também vou partilhar, Blonde
Sinto exactamente o mesmo e tenho maus pressentimentos quanto ao futuro. Os europeus estão a perder as suas referências e por arrasto a memória.
O mesmo se aplica a Portugal. Os jovens não sabem como era o país durante o Estado Novo e parece que ninguém está interessado em lembrar-lho. Pelo contrário, há quem tente mesmo reabilitar aquele período negro da nossa História. Muitos, apensa assentes na leviandade bebida em livros que, em profusão, reabilitaram um regime hediondo.
Também vou partilhar, Blonde
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