O Manel dorme a sesta enquanto aqui venho. Daqui a pouco agarro nele e sigo para Lisboa entregá-lo à mãe para seguir para a vida que me aguarda noutro local onde mudarei de ano. Pensando nele que dorme a sono solto no segundo andar aqui de casa, é esse o grande balanço do ano que se acaba: a família completa. Em Maio recebemos a Margarida e, por alturas de Junho, o Manel começou a vir temporadas para a casa da Tia; a casa que era dos avós e que um dia será dele e da mana. A minha família ficou completa em 2013 e nada me é, ou foi, mais importante neste ano.
O país foi definhando; não temos políticas nem políticos, a economia soçobra ainda que lhe vejam sinais anémicos de vida, a (des)esperança persegue-nos em fado, a envolvente acinzenta-se e, no geral, 2013 foi aziago e avinagrado. Se eu fosse sózinha na minha vida seria isso que levaria de 2013, um ano destroçado e sem memória futura. Mas este ano tornei-me tia-mãe na plenitude dos afectos pelos meus sobrinhos e no que eu e o Manel nos aproximámos com a sua saída do estado bebé para se tornar numa mini-pessoa que experimenta o verbo pelas primeiras vezes e nos deixa ver o que vai lá por dentro da sua personalidade que desponta.
Levo de 2013 a minha tia-maternidade e a realização máxima de mim enquanto gente que experimentou todas as vertentes em que desmultiplica o Amor. Se morrer hoje ou no ano que se inicia, morrerei depois de ter sabido o que é o amor aos pais, à irmã e aos filhos. Amei homens e amo amigos. Amei Deus e os poderes do Alto. Morrerei sabendo o que é receber todos estes matizes de Amor e sobretudo, morrerei tendo recebido o maior Amor de todos: o que está no coração de uma criança que nos pede abraços e procura o refúgio das nossas pernas quando um Spotty o quer lamber ou um estranho lhe quer falar. A Vida privilegiou-me.
Não posso pedir um melhor 2014. Peço o comezinho, que é mais que muito: saúde, paz, amor na vida.
A todos: Feliz Ano que se inaugura.
31 de dezembro de 2013
29 de dezembro de 2013
Detox pós-Natal
O meu problema não são os fritos ou o bolo-rei. A chatice é mesmo a Stollen, os queijos e os camarões e toda a petiscada não-doce. Agora, vou ao detox: um punhado de espinafres, uma fatia de melão, meia maçã, folhas de hortelã, sumo de meio limão, uma pitada de pimenta num copo misturador com um pouco de água ou chá verde. Vrum, vrum e já está um batido detox. A outra chatice é que vem aí o fim-de-ano e recomeça tudo de novo... :)
26 de dezembro de 2013
Houve dois Natais
1997 - Estávamos os quatro felizes como nunca. Pela primeira vez em seis anos eu não pensava que aquele poderia ser o último. Pensei, antes, que seria o primeiro de muitos depois de tudo. Não festejei com receios de perda. A Mãe, eu e a Mana dançámos ABBA e Demis Roussous até às três da manhã. Foi o Natal mais feliz da minha vida de então vintes e tais. Três dias depois começaria o fim. Seis meses depois e este tinha sido o último Natal. Mas enquanto o festejámos não havia futuro e o Natal foi livre de sombras e incertezas.
2013 - Refizémos a vida de tal modo que, dos três que restámos estropiados e dilacerados ao infinito, somos hoje o dobro do que éramos quando éramos quatro: felizes por nos termos desde sempre e ainda e por nos termos encontrado em outros. A Mana multiplicou-nos. E mesmo que eu sinta sempre a falta da Mãe e o meu coração eternamente sinta o vazio da presença física Dela, conseguimos ser felizes na estabilidade que, a custo, fomos criando para as nossas vidas. Este ano tive um ajudante para distribuir os presentes. Passinhos pequenos e ágeis que procuram a pessoa a quem a Tia diz para levar os ditos. Sorriso impresso em olhos contentes e, ao colo de avó que nos é maternal, porque o sangue nem sempre é tudo, sete meses de gente que dão conta de tudo até ao dia em que também ajudará a Tia a distribuir presentes. Estamos completos. Fizémos uma família que tem tanto de continuação de uma primordial como de construção nova. Estou orgulhosa de nós. Estabilizámo-nos. E eu tento evitar o receio da comparação com um outro Natal imensamente feliz porque o medo está sempre lá. Depois de experimentarmos a irremediabilidade da Perda, dificilmente baixamos a guarda para nos darmos a felicidades totais. Mas neste Natal, a felicidade vivi-a enxotando o medo. O Manel e a Margarida são mais fortes do que o meu medo, tal como os bordões que encontrámos para nos acompanharem na vida são mais fortes do que o meu medo.
Que me sossegue o coração e se apazigue porque se eu morrer hoje, ontem foi um dos melhores Natais de sempre.
24 de dezembro de 2013
Feliz Natal
Vai ser um Natal especial: o primeiro em que temos a Margarida, o primeiro de que o Manel se lembrará. Desejo que neste Natal todos os corações se sintam assim felizes. Ao Poder que me permitiu chegar aqui: obrigada. A todos: paz.
Blonde
Blonde
22 de dezembro de 2013
Mais um ano de nós
Eu e a Ältere Leute já levamos quase vinte anos de caminho (faz os vinte no próximo Setembro), Vinte... Fomos ficando, permanecendo. Antes dos mails havia escritas: ela sempre a caneta lilás clarinho. Depois os mails e o dia em que ela descobriu que eu tinha um blog, quando praticamente ninguém sabia que eu tinha um blog e o blog era algo que já não é hoje. Deixei-a entrar aqui sem deixar que outros entrassem. Por isso: porque nos estimamos como pouca gente a quem a vida pôs no caminho por razões iniciais que nada tinham a ver com amizade. Ficámos. Permanecemos.
Hoje nem consigo imaginar que não partilhemos a nossa tradição anual de escolher um sítio novo e de pormos a conversa em dia no vagar que a vida nos permite. Este ano voltámos ao Chiado depois de um interregno em Belém. Não sei porquê mas acho que a Baixa é mesmo a nossa "onda".
Gosto indescritivelmente de tê-la e gosto ainda mais que ela saiba desse meu gostar porque nada há pior do que um dia termos o remorso de não termos dito o que queríamos a quem queríamos. Essa paz eu tenho porque:
Gosto tanto de si...
Hoje nem consigo imaginar que não partilhemos a nossa tradição anual de escolher um sítio novo e de pormos a conversa em dia no vagar que a vida nos permite. Este ano voltámos ao Chiado depois de um interregno em Belém. Não sei porquê mas acho que a Baixa é mesmo a nossa "onda".
Gosto indescritivelmente de tê-la e gosto ainda mais que ela saiba desse meu gostar porque nada há pior do que um dia termos o remorso de não termos dito o que queríamos a quem queríamos. Essa paz eu tenho porque:
Gosto tanto de si...
16 de dezembro de 2013
Ainda me lembro de ter um blog
Acho que se chamava Blondewithaphd...
No entrementes, a dona da Blonde deixou de ter tempo para sequer pensar que existe quanto mais dar-se ao luxo de escrever num blog. Curioso, a dona da Blonde gostava imenso de ter um blog, a coisa fazia-lhe bem à alma. Agora, a dona da Blonde anda a ver se, junto com uns carolas com igual espírito de carolice, anda a ver se ajuda o país naquilo que pode na esperança de que muitos carolas façam um pózinho de diferença.
Que saudades de ter um blog com uma miúda dividida entre a identidade alemã que a viu nascer e o sentimento pátrio d esse fazer portuguesa. Saudades...
No entrementes, a dona da Blonde deixou de ter tempo para sequer pensar que existe quanto mais dar-se ao luxo de escrever num blog. Curioso, a dona da Blonde gostava imenso de ter um blog, a coisa fazia-lhe bem à alma. Agora, a dona da Blonde anda a ver se, junto com uns carolas com igual espírito de carolice, anda a ver se ajuda o país naquilo que pode na esperança de que muitos carolas façam um pózinho de diferença.
Que saudades de ter um blog com uma miúda dividida entre a identidade alemã que a viu nascer e o sentimento pátrio d esse fazer portuguesa. Saudades...
11 de dezembro de 2013
O melhor texto sobre este miserável estado de coisas
Vasco Graça Moura. Hoje no DN
É duro. Crú. Incrivelmente desapaixonado. Faz doer que se farta porque, afinal, a verdade magoa mais do que a mentira. E assim, por não gostarmos do que nos magoa, vamos seguindo num rolo de mentiras, tapando sóis com peneiras esburacadas e cavando o país de fragilidades a que chamamos casa.
Não consigo colocar em palavras o como este texto me afectou na sua lúcida crueza.
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3580452&seccao=VascoGra%E7aMoura&tag=Opini%E3o-EmFoco
É duro. Crú. Incrivelmente desapaixonado. Faz doer que se farta porque, afinal, a verdade magoa mais do que a mentira. E assim, por não gostarmos do que nos magoa, vamos seguindo num rolo de mentiras, tapando sóis com peneiras esburacadas e cavando o país de fragilidades a que chamamos casa.
Não consigo colocar em palavras o como este texto me afectou na sua lúcida crueza.
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3580452&seccao=VascoGra%E7aMoura&tag=Opini%E3o-EmFoco
9 de dezembro de 2013
Contar as bênçãos
Passei o fim-de-semana à minha vontade. A domesticidade tem o seu quê de aconchego de alma. Embrulhei presentes, varri o quintal, fiz mais marmelada com os últimos marmelos que apanhei de um marmeleiro já com as folhas amarelas a caírem em chuva, girei e revirei por entre o silêncio da Casa. Gosto de silêncio e solidão. E gosto de ambos porque sei que não estou só e porque o meu mundo tem barulho. Conto as bênçãos. Conto-as olhando para baixo para a geada que cristaliza a relva do jardim.
5 de dezembro de 2013
2 de dezembro de 2013
Árvore 2013
Ei-la, a minha árvore de Natal feita especialmente para o meu sobrinho porque aos três anos será o primeiro Natal em que já tem consciência de gente para apreciar a festa.
Quero que aqui na Casa da Tia Bá ele contacte um pouco com as tradições alemãs que, em suma, são parte da nossa identidade e que explicam alguns dos capítulos do passado ancestral que legamos ao Manel enquanto português. Assim, decorei a árvore com os anjos que comprei há muitos, muitos anos na melhor loja de Natal do mundo que fica em Rothenburg ob der Tauber, uma cidade da Baviera onde é Natal o ano todo. Daqui a dois ou três Natais coloco os anjos que a Tante Ruth e a Tante Henny deram à mãe e à tia quando elas eram um nadinha mais velhas do que ele, mas são anjos muito frágeis e a Tia Bá prefere jogar pelo seguro e ainda não os pôr ao alcance de curiosidades de três aninhos.
No resto, decorei a árvore com bonecos de madeira e algumas bolas que viviam nas árvores da minha infância, umas compradas na Alemanha, outras cá. E como o Manel está a ser educado para o bilingualismo do século em que viverá homem, também lá estão as decorações que a Tia trouxe de Londres num Natal distante quando o futuro era longe e ela pensava que faria uma família por si própria e sem adivinhar que a família que ela realmente teria seria a mais especial e perfeita de todas: esta.
Falta a Avó Vina do Manel, falta sempre, e para sempre, a Mãe da tia e a Mãe da mãe mas há o Manel e este ano, pela primeira vez, existe a Margarida. A Avó estará cá, como sempre e para sempre, e daqui a dois anos verá a árvore especial que a Tia fará para o primeiro Natal em que a Margarida tiver consciência de gente para apreciar a festa, comer Stollen e Lebkuchen à mistura com filhoses e bolo-rei.
Este ano, contudo, foi no Manel que a Tia pensou ao fazer a árvore e no dia de Natal haverá biscoitos de gengibre pendurados nos ramos para o Manel apanhar e repartir por nós. Fazes-me tão infinitamente melhor Manel...
Quero que aqui na Casa da Tia Bá ele contacte um pouco com as tradições alemãs que, em suma, são parte da nossa identidade e que explicam alguns dos capítulos do passado ancestral que legamos ao Manel enquanto português. Assim, decorei a árvore com os anjos que comprei há muitos, muitos anos na melhor loja de Natal do mundo que fica em Rothenburg ob der Tauber, uma cidade da Baviera onde é Natal o ano todo. Daqui a dois ou três Natais coloco os anjos que a Tante Ruth e a Tante Henny deram à mãe e à tia quando elas eram um nadinha mais velhas do que ele, mas são anjos muito frágeis e a Tia Bá prefere jogar pelo seguro e ainda não os pôr ao alcance de curiosidades de três aninhos.
No resto, decorei a árvore com bonecos de madeira e algumas bolas que viviam nas árvores da minha infância, umas compradas na Alemanha, outras cá. E como o Manel está a ser educado para o bilingualismo do século em que viverá homem, também lá estão as decorações que a Tia trouxe de Londres num Natal distante quando o futuro era longe e ela pensava que faria uma família por si própria e sem adivinhar que a família que ela realmente teria seria a mais especial e perfeita de todas: esta.
Falta a Avó Vina do Manel, falta sempre, e para sempre, a Mãe da tia e a Mãe da mãe mas há o Manel e este ano, pela primeira vez, existe a Margarida. A Avó estará cá, como sempre e para sempre, e daqui a dois anos verá a árvore especial que a Tia fará para o primeiro Natal em que a Margarida tiver consciência de gente para apreciar a festa, comer Stollen e Lebkuchen à mistura com filhoses e bolo-rei.
Este ano, contudo, foi no Manel que a Tia pensou ao fazer a árvore e no dia de Natal haverá biscoitos de gengibre pendurados nos ramos para o Manel apanhar e repartir por nós. Fazes-me tão infinitamente melhor Manel...
1 de dezembro de 2013
Já entrei na quadra
É o que dá ter um sobrinho com três anos acabados de fazer: passo o primeiro dia de Dezembro entregue a pôr a casa com ar de Natal. Só faço decorações mesmo à última da hora e este ano dou por mim a preparar uma casa para estar um mês e tal cheia de Natal. É que este ano o Manel já percebe que há épocas do ano que são diferentes e já percebe muito bem o que é festa e família.
Pintei um ramo seco com spray branco (no entrementes pintei os óculos, a relva e os dedos) com que fiz uma árvore de Natal e, para meu espanto total, debruei uma janela com luzes sem me electrocutar (eu que nunca, jamais decoro com semelhantes apetrechos). Sim, Manel foi em ti que a Tia pensou já que os seis mesitos da Maggie lhe fazem o Natal passar ao lado. Agora vem cá dependurar-te da árvore ou das cortinas que a Tia vai mesmo achar piada!
Sempre estou para ver a cara do Manel quando aqui chegar ao campo e o campo for Natal. E mal ele adivinha o presente fantabulástico que só uma Tia alemã lhe poderia dar...
Pintei um ramo seco com spray branco (no entrementes pintei os óculos, a relva e os dedos) com que fiz uma árvore de Natal e, para meu espanto total, debruei uma janela com luzes sem me electrocutar (eu que nunca, jamais decoro com semelhantes apetrechos). Sim, Manel foi em ti que a Tia pensou já que os seis mesitos da Maggie lhe fazem o Natal passar ao lado. Agora vem cá dependurar-te da árvore ou das cortinas que a Tia vai mesmo achar piada!
Sempre estou para ver a cara do Manel quando aqui chegar ao campo e o campo for Natal. E mal ele adivinha o presente fantabulástico que só uma Tia alemã lhe poderia dar...
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