A Mãe faria hoje 72. Menos do que o Sam Riley que morreu anteontem. Menos do que o Pai que os fez em Outubro. A Mãe morreu sem saber o que são cabelos brancos e vida longa. Morreu sem saber o que são netos ou que as filhas chegariam ao Aqui a que chegaram.
Hoje falei com ela num momento, um diálogo mudo como se fosse um dos nossos diálogos recíprocos de quando Ela habitava na nossa materialidade. Pergunto-lhe sempre se sente orgulho de nós. Hoje percebi lucidamente que se eu fosse a Mãe teria orgulho ao ver-nos e saber-nos o que somos. Nem sempre sinto isso porque sei que A terei defraudado um cento de vezes ainda que saiba que há só uma única e singular coisa de que me arrependo na vida e da qual sei que Ela não se orgulha de mim.
Aprendi. Aprendi, Mãe, que é preciso Vida para vermos o que não vemos quando somos mais novos e pensamos que a vida nos vai fugir. A vida é breve mas não tão assim. Chegar aqui é um privilégio para o nosso entendimento humano das coisas. Desejo tanto o direito ao erro como insisto na penitência por merecer castigo e depois acho que o castigo já foi demais e volto a pensar que ainda é de menos e que nada nunca apagará o erro ou sanará a minha consciência. Enfim. Mas tirando isso acho que talvez não te tenha defraudado as expectativas. A Mana sei que nunca te defraudou. olho para a vida dela imbuída de um orgulho tal que parece que sufoco. E, sabes, olho para os meus sobrinhos tão pequeninos e já a adorarem-se tanto e vejo-me a mim e à Mana educadas por Ti para nos amarmos sempre e nos ampararmos. Estamos a dar-lhes o que nos deste e eles são tão teus filhos como nossos no Amor que nos ensinaste.
Apanhaste-me hoje desprevenida ou talvez mais frágil porque há desejos que, por se começarem a materializar, nos desestabilizam. Acho que sabias que isto ia chegar e me avisaste antes de eu saber. Se calhar é este tempo cinzento que me alterou o humor ou a leitura do que estive a ler que me é penosa na sua veracidade e por ser toda nós. Não sei. ainda pensei deixar passar a data em claro sabendo que não o iria fazer. Adiei ao máximo confrontar-me com hoje e não lembrei à Mana o dia apesar de já tanto hoje nos termos falado. Sei que hoje eu e pai não falaremos. É demasiado doloroso ressuscitarmos saudades partilhadas da Tua ausência. Fingimos que hoje não é nada de especial e fazemos os três o luto à nossa maneira.
Ó Mamã, tenho sempre tantas saudades...
3 comentários:
Um beijinho de companhia !
Como eu gostava de acreditar que alguma vez numa qualquer dimensão iria encontrar, "abraçar" os quatro que ao longo da minha vida perdi e que amei e ainda amo profundamente! Pesem os 25 anos que a minha adorável avó nos deixou, eu ainda verdadeiramente não me recompus!
Sensibilizou-me o seu post!
Querida Blond, obrigada por este teu post, tão sentido.
A tua mãe, tem muito orgulho de ti, de vós, com toda a certeza.
Um grande abraço.
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