26 de abril de 2014

Subir ao monte


Ontem passei o dia sózinha de gente. Gosto dessas solidões quando sinto que são-no só porque as escolhi e porque o não são de facto. Solidões de gente em dias que temos só para nós são luxos que nos higienizam o pensamento e nos libertam para nós. Dou graças.
A meio da tarde, enquanto ouço foguetes a estalar na vila comemorando passados recentes esboroados, calço os ténis e ponho um boné. Vou subir ao monte: cansar o físico, refrescar pulmões e falar comigo a ver as vistas deste campo de verdes e vinhas e matos.
A Mãe adorava o tudo silvestre e à minha volta as flores bravias que ela tentava domar e transplantar para o nosso jardim: chucha-méis. Conseguiu que um pé dessas flores aromáticas se acostumasse a viver domesticado. Morreu depois dela, quando eu herdei o jardim e o dei a outras mãos porque as minhas não são capazes. Definhou porque a Dona lhe faltou e a nova lhe transmitia o stress do "tens de viver" e não sabia o que fazer: se o deixar estar ou se o trazer domesticado.
Ontem estavam por todo o lado. Uma lembrança bem viva de algo que me acompanha sempre. O mesmo aroma intenso a flor livre e a memória Dela. Gostei do passeio na minha solidão que subia o monte e observava o vale onde as gentes vivem. Sózinha na altitude, dei graças por ter chegado Aqui. Ámen.

1 comentário:

Luz Santos disse...

Como eu a compreendo Blonde!
Como é diferente e belo o que conseguimos ver lá de cima... do alto do Monte, onde o ar é puro e não há maldade!
É aí que podemos pensar serenamente nas recordações belas que trazemos dentro de nós!
Na sua fotografia vejo a "madressilva" que me trás tantas saudades dos meus campos alentejanos, e do aroma que me envolvia quando lhe tocava.
O tempo passa e perdemo-lo em coisas que não valem a pena, deixando para trás o que é realmente belo.
Bom fim de semana.