29 de outubro de 2014

Lembravam-se

Oito e meia da noite. Escuro e eu à pressa enfiada numa loja a escolher um presente de última hora para o Senhor Pai. Sem tempo nem paciência ao fim de um dia longo de horas e trabalho.
- Blonde...
Oiço a voz. Vejo um casal que me saíra da vida quando me separei. Nunca mais pensei neles. Tinham vindo com o marido. Tinham saído com o ex-marido e achei normal.
Afinal, lembravam-se do meu nome (eu que me esqueci do deles e ainda não me consigo lembrar), queriam saber de mim. Sorriam. Sorriam muito. Não me perguntaram por episódios passados. Foram carinhosos.
Em suma, fiquei parva porque não saíram. Ficaram numa coxia qualquer e não tomaram nem partidos nem trincheiras. Gostei. Iluminei-me. Só não me consigo lembrar dos nomes...
Obrigada! 

27 de outubro de 2014

Os cavalos não vivem nos carros

- Tia, o Vô Miguel disse que o carro tem cavalos. Mas, Tia, os cavalos não vivem nos carros, pois não?
                                                                            Manuel, 4 anos a 26 de Outubro de 2014.

26 de outubro de 2014

A idade que mudou com a hora

Hoje mudou a hora. E hoje há (já) quatro anos nascia o meu sobrinho Manel.
Adoro-te Manel. Sempre e para sempre.
Parabéns! Happy birthday! Auntie Bá loves you very much!

22 de outubro de 2014

A Casa Alentejana das Heras

Quando, este Verão, pintei a casa dei-lhe as cores do Alentejo (ficou linda e a vizinhança agora também quer uma casa igual) e disse aos pintores que a hera das paredes era para ficar. Deram-lhe um desbaste porque, já se sabe, pintores e heras são uma incompatibilidade natural. Mas ei-la que, pujante, faz a sua reaparição e, desta feita, sobre tinta fresca. Vão-me matar (os pintores)...

18 de outubro de 2014

O homem vai morrer, e daí?

É, o David Attenborough vai morrer, mais ano menos ano, mais dia menos dia, só que eu não tenho de ser lembrada disso a sangue-frio, tenho?
Idiota da tipa do The Guardian que se atreve a gozar com a mortalidade do Attenborough. I'm so pissed off! E o raios parta ao eufemismo-chavão-gasto da canção de cisne! Freakin' unbelievable!! Moron...

Aqui:
http://www.theguardian.com/tv-and-radio/2014/oct/18/life-story-david-attenborough-swan-song

10 de outubro de 2014

E é por isto que eu desenvolvi uma intolerância ao casamento

Até se ter casado com o George Clooney, Amal Alamuddin era isso mesmo: Amal Alamuddin, uma pessoa por si própria. Casou passou a ser a Senhora Clooney ou a mulher do George Clooney. É ver o "The Guardian" de hoje para ser Mrs. Clooney this, Clooney's wife that, the wife of George Clooney, sempre uma posse qualquer que a impede de ser ela. A senhora vai defender a Grécia contra o Estado Britânico na recuperação de artefactos arqueológicos e, de repente, não é ela, é a mulher do Clooney. Acho tão medieval...
Aqui:
http://www.theguardian.com/world/2014/oct/09/amal-alamuddin-clooney-wife-greece-elgin-marbles-bid

6 de outubro de 2014

Tive saudades como se ele já cá não estivesse

Não soube o que é ter Mãe na idade adulta. Não lhe testemunhei o passar do tempo. Vivo-a na saudade perpétua domesticando a dor numa luta constante para que as memórias dela me firam o menos possível por significarem a sua ausência.
Com o Pai é diferente. Ele permaneceu. Mudou a vida depois que aquilo tudo aconteceu. No início toda a mudança me foi penosa, insuportável quase, mas o tempo é o tempo e o tempo sabe amainar-nos. Quando vejo o meu Pai com os netos, os filhos que eu não tenho, suspendo o coração e suspendo os momentos. A Mãe está lá sempre numa ausência palpável nas imagens que vejo dele rodeado por duas crianças chilreantes que o tratam com o afecto das meninices felizes. Vejo o meu Pai avô como não o vi Pai. Vejo-lhe o tempo no corpo e no rosto e noto como se transformou com a passagem que, felizmente, se vai tornando longa por aqui nesta corporalidade.
Ontem suspendi-me, como sempre, ao vê-lo a arranjar um dos portões da rua aqui em Casa. Não estava só. Por detrás da vidraça da janela deixe-me ficar a observá-lo a consertar a fechadura com o neto ao pé. E o neto falava-lhe perguntando-lhe coisas curiosas e indo-lhe aos bolsos a ver se descobria o que teriam: coisas que só os bolsos de avôs devem ter. E o Pai-Avô respondia e deixava-se estar na companhia do neto.
Não consigo descrever o misto de enlevo, amor e perda que sinto nesses momentos que me doem tanto como tanto me deixam felizes e que me doem precisamente por serem felizes.
Depois os netos forma embora de volta para a cidade e eu fiquei, filha com o Pai e fomos reviver um passado onde eu não entrava há mais de vinte anos. Fomos. fomos à feira e fomos felizes. As memórias todas lá, caladas ou pronunciadas como se não nos doessem. Demo-nos ao presente conscientes daquele passado. Aproveitámos o momento, felizes por vivê-lo e partilhá-lo nesta vida de correrias. Regressámos a Casa e quando ele se foi embora e lhe vi o carro partir por entre a noite lembrei-me que um dia não o terei. Pedi que esse momento me seja afastado o mais possível e tive saudades. Tive saudades de momentos destes um dia que não os tenha e pedi à mente e ao coração que não se esqueçam nunca daquele momento e do que sentiram.

De facto, nada há que se compare a esta coisa maravilhosa do sentimento dos nossos...

3 de outubro de 2014

Sente-se livre?

A Fundação Francisco Manuel dos Santos está a promover o seu 3º encontro de Reflexão, cujo tema é Em Busca da Liberdade. A pergunta feita é: "Sente-se Livre?"


Se mo perguntarem só posso dizer: "Claro que não!"


Com um divórcio a correr há SEIS anos que foi agora sanado mas que, à conta do crash do Citius, continua sem ser homologado eis porque não posso dizer que sou livre:


- Não tenho direito ao nome;
- Não posso voltar casar (se isso quisesse);
- Não posso adoptar (a lei é muito clara podem adoptar pessoas solteiras ou casadas e eu nem sou uma coisa nem outra);
- Não posso dispor da herança dos meus pais apesar de me ter casado apenas em comunhão de adquiridos porque o meu ainda-marido teria de dar consentimento;
- Não posso anular contas bancárias (mesmo que o BES caia) porque preciso da assinatura do dito cujo ainda-marido (que não vejo fisicamente há SEIS anos);
- Não posso dar entrada com o processo no Tribunal Internacional dos Direitos Humanos em Estrasburgo porque, legalmente, o processo em Portugal ainda não está concluído;
- Se eu morrer agora, o meu testamento não consegue deserdar o meu ainda-marido na totalidade, e eu tenho um testamento feito para estas eventualidades mortais que não se pode sobrepor à lei.


Sente-se livre?: "Livre?! O que é isso?"

1 de outubro de 2014

No Dia da Música





Lembrei-me de que estou grata a cada dia pelos meus privilégios e consciente da sua fragilidade perante a nossa humanidade.