Eu devia ter uns seis anos e era por esta altura. A Mãe deu-me uma taça com dióspiros e um colher de sobremesa. Aprendi a palavra sem a ter aprendido na outra língua, ou seja, foi das primeiras coisas verdadeira e 100% portuguesas que aprendi, uma coisa aprendida fora da tradução. Desde aí que dióspiros me lembram os primeiros dias de escola e bata branca rodada. Dióspiros significam primeiras chuvas e cheiro de terra molhada depois da secura do pó estival. Dióspiros são, paradoxalmente, o meu começo de ano. Depois sei que vêm as castanhas, as nozes, as folhas carmim e o tempo molhado com restos do calor que já se foi, o São Martinho e aquela altura do dia que nos surpreende por já não ser dia depois de meses a ser luz.
São o meu fruto favorito. Como-os às taçadas e não me lembro que alguma vez os tenha comprado. Ontem recebi-os de duas proveniências diversas. Estão a estalar com as primeiras águas e doces como mais do que o mel. Não vão sobrar porque a taça e a colher os esperam...
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