25 de agosto de 2016

Dia 1: Lisboa-Londres-Houston

A gratidão pela Vida permite-nos o gozo pleno, destressado. O gozo de quem não acha que a "minha viagem é melhor do que tua" ou que eu viajo mais originalmente. Sobretudo, viajo com o gozo de não queimar tempo e paisagens em selfies, postar o que vejo, como e faço no Facebook só para dizer que viajo, fui, vi e venci. Viajo porque sim, porque tenho consciência do privilégio das minhas escolhas e da liberdade das decisões inusitadas.
Porque não atravessar os Estados Unidos de costa a costa? Sim, porque não? E a decisão tomou-se nesse menos tempo do que leva a proferir o monossílabo da anuência. Começar pela Flórida: Miami, Key West, Tampa, Tallahassee e todos os sítios fora da estrada batida, Homosassa, Siesta Key, Islamorada. Depois o "sweet home Alabama", o Mississippi, o Louisiana, o tal da New Orleans dos bandos de turistas em Bourbon Street e dos barcos a vapor a lembrar o Tom Sawyer e o Huckleberry Finn, o Louisiana do desterro em Alexandria onde há uma loja de penhores com um programa de televisão e onde fui deixar os noivos de barro do bolo do meu desfeito casamento (renderam-me 10 dólares!, bem mais do que me valeu o desfeito casamento). E depois o Texas, imenso, gigante, a fazer jus ao mote de que "everything is bigger in Texas", é. Houston, um colosso feio onde tive um namorado nos tempos em que a vida se me apresentava toda pela frente e eu não sabia bem que caminho tomar mas sabia que não o tomaria por Houston. Escreveu-me já eu estava no meu desfeito casamento. "There is still time", disse-me, mas eu continuava a saber que o caminho não seria por Houston. Não foi. Fiquei pouco ali no colosso feio. Washington-on-the-Brazos, a capital do Texas independente. San Felipe de Austin, o coração da colónia dos tempos da colónia. Galveston, a ilha dos pelicanos dolentes e das casas coloridas que se espraiam nos areais. Tempo de regressar.
E este ano, tempo de partir e regressar a Houston. Começar onde se interrompeu a viagem. Parto e levo o coração pleno de alegria. Pronuncio gratidão.

2 comentários:

Dalma disse...

Gosto dos seus posts porque não são pretensiosos, como a maior parte dos que para aí andam, já para não falar da forma elegante da sua escrita!
A atitude de agradecer é nobre. Eu fiquei-me pela jura, que tenho cumprido:

http://naterradosplatanos.blogs.sapo.pt/30384.html

Continue a surpreender-nos
D.

Blondewithaphd disse...

Dalma,
Obrigada! Não sei se surpreenderei Mas certamente que contarei!