24 de novembro de 2016

Dia 7: Presença nativa

Há qualquer coisa diferente e apaziguadora no ambiente de Santa Fé. Qualquer coisa entre o telúrico e o místico paira no ar. Nas matrículas dos carros do Novo México, o mote é "Land of Enchantment", terra de encanto. É. O Oeste aqui não é o Oeste dos Fortes no Texas ou dos fora-da-lei de Lincoln County mais a sul. O Oeste aqui é o dos primeiros povos. É o Oeste da cultura pueblo, o Oeste da resistência ao Branco e do orgulho no legado antigo da proximidade com a terra.
A língua inglesa-americana tem problemas com o passado e dói-lhe o uso de certas expressões. Native-American, como Afro-American, é daquelas que causam pruridos do politicamente correcto. Agora chamam-lhes First Peoples, os Primeiros Povos, e African-American, Africano-Americanos para evitar o, pelos vistos pejorativo, "Afro". Santa Fé está imbuída do espírito que presta homenagem aos povos autóctones (acho que estou a ser politicamente correcta, right?) e nota-se a sua tentativa de ligar o passado ancestral ao presente. As galerias de arte que abundam na downtown dedicam-se às formas de arte nativas e há uma vasta comunidade de artistas nativo-americanos (parece-me que o Português não tem tantas comichões como o Inglês). Ouve-se música chill out pelas ruas e até o passo das pessoas é descontraído. Agrada-me esta cidade saída de um pós-Woodstock qualquer.
O estuque das casas, das igrejas e demais edifícios imita o adobe ocre das construções dos pueblos à volta. Estamos em território da cultura pueblo, comunidades sedentárias que se dedicavam à agricultura aqui no planalto do Novo México. Até a própria Natureza convoca a este sedentarismo comunitário. Há abundância de água e fontes termais quentes como em Ojo Caliente (transformado em spa de luxo). Fico com a sensação de que gostarei, um dia, de voltar aqui.

2 comentários:

Dalma disse...

No Canadá onde estive um ano, aos nativos chamam "first nation" e acredite-se ou não têm o previlégio de ter subsídio para tudo, no entanto muitos acabam alcoolizados como "homeless"nas ruas das grandes cidades como é o caso de Montreal!

Dalma disse...

Se tiver vagar, espreite aqui:

http://noareeiroeporai.blogs.sapo.pt/olhando-a-agua-e-as-coscuvilheiras-175079

e verá que estas esculturas " gordas " estão muito na moda. Esta foi tirada na Old town de Montreal e é uma verdadeira delicia de expressividade o que nem sempre acontece em esculturas deste género.

Continuo a ler com interesse o seu (pós) diário pois sou uma apaixonada pela América profunda mas não só ! E pelo Canadá bucólico também.