A meio do percurso e já quando o sol me violenta de todas as maneiras que me grelham a pele, vislumbro uma fenda colossal na paisagem. A esta distância parece uma cratera e nada mais. Olhá-la não me faz lembrar o imaginário que trago e que sei que ali se esconde. E se não for como eu imagino? E se não for a imagem dos documentários e das fotos da National Geographic? Contemplo a garganta profunda que se abre no horizonte à frente dos meus olhos, o ponto para onde os meus pés ainda me vão ter de levar. Inspiro. Bebo mais um gole de água. Enfrento o braseiro solar e digo-me: "Caminha!" Caminho.
Chego à beira do precipício. Aos meus pés o canhão esculpido pelos milénios de milénios de trabalho do Rio Colorado. A imagem apercebida pelos olhos é igual à das fotos da National Geographic e de todos os documentários. Não é preciso photoshop, nem filtros, nem ângulos especiais. Isto é a Natureza sem batota. Isto é o gigantismo que nos atordoa a pequenez. Morro de vertigens mas é a vertigem que me chama a aproximar-me da falésia desprotegida. "Vem!", chama-me. Vou. Agradeço, agora, como sempre. Peço que me imprimam a foto naquele sítio como se a foto de mim ali me fizesse mais dona do momento e do espaço. Porém, sei que não é a foto que me pertencerá na eternidade daquele momento. A foto é a memória que levo nos olhos e na alma. Essa é a foto que me acompanhará no caixão. Essa, cujas cores nunca se desvanecerão com o tempo.
Desfaço o caminho de volta sob as brasas que o sol atiça sobre esta paisagem milenar. Nem por um instante noto o calor...
2 comentários:
Quando fui ao Grand Canyon, no troço que fica a uns 200km de Las Vegas a paisagem era imponente mas nem de longe como a das suas fotografias. O Colorado, embora verde esmeralda, era apenas um fiosinho nas profundezas do Canyon...
A sério que são assim tão elevadas as temperaturas no Inverno?
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