7 de fevereiro de 2017

Dia 11: Eis que começa a Route 66

Neste país de contrastes e imensidões bastam três horas de condução para a planície abrasadora e desértica dar lugar à frescura alpina. O deserto encarnado e seco transforma-se em floresta de coníferas verdejantes e a temperatura desce abruptamente. Preciso de um casaco. Um aguaceiro rápido molha o chão e o cheiro a pinho perfuma o ar da montanha. Chego a Flagstaff no Arizona e ao começo do meu percurso da mítica Route 66.
Há uns anos valentes fiz um pequeno trecho da Route 66 de Kingman a Oatman (Oatman, o local onde hoje acaba a Route 66). Na verdade, a Route 66 já não existe. Foi substituída por interstates e highways e o que resta são uns pedaços de estrada que coincidem com a antiga Route 66, assinalados com sinais para turista ver. Este ano pretendo ir de Flagstaff a Kingman, passando por Seligman, curiosamente o pedaço da Route 66 mais icónico e preservado. Vamos ver.
A Route 66 começava em Chicago, no Illinois, e ia até à Califórnia. Era a estrada dos sonhos, a estrada rumo ao Oeste prometido. Viveu o apogeu das grandes migrações internas nas décadas de 1950 e 60 e, no que ainda resta, perdura a memória kitsch desses tempos. Fico num desses hotéis nostálgicos das décadas do Elvis e do rock 'n' roll. Chego mesmo a tempo da happy hour no bar do hotel. Lá fora o dia cai nublado pelos restos de chuva e eu penso no país que atravesso e na disparidade sublime das paisagens que os meus olhos viram e o meu corpo sentiu neste dia único e absolutamente maravilhoso. Sorvo o resto do dia e espero o de amanhã. Sinto-me livre e agradeço o privilégio...

1 comentário:

Dalma disse...


Há mais de 10 anos os meus filhos ofereceram-nos, como surpresa de Natal, um guia da Route 66. Eles sabiam do nosso gosto de viajar de carro pelos US e de que estava na nossa "to visit list", fazê-la, pelo menos em parte, numas próximas férias.
O guia era em forma de diário de viagem onde se relatavam as expectativas e as desilusões que a Route 66 trouxe aos viajantes autores!
Depressa conclui que a mítica Route 66 não existia verdadeiramente, salvo um ou dois troços e isso desmotivou-nos.
Uns dois anos depois, de visita á Califórnia e em Santa Mónica passamos no sítio que assinala onde ela terminava, tal como em Setembro de 2013 no sítio, em Chicago, onde ela começava!
Pelo meio ficou o mito...