Chegar a Rothenburg ob der Tauber é chegar ao Natal, às imagens dos postais ilustrados com cenas natalícias, é chegar ao coração da Estrada Romântica no que mais tem de encantador e, lá está, romântico. Rothenburg é a vila pitoresca por excelência, a autêntica pérola desta estrada feita turismo e iconografia nostálgico-romântica. Venho com expectativa de reencontro e na ilusão, aquela que traduz a esperançosa e esperançada ilusión espanhola, de mostrá-la ao meu marido e acordar-lhe memórias de infância. Sim, trago ilusão no coração neste regresso a Rothenburg.
Perco-nos nas ruazinhas castiças e enfeitadas de flores, sentindo-nos a passear pela paisagem de um postal tridimensional. A cada esquina os olhos arregalam-se. Tanto se têm arregalado nesta viagem e ainda não estão de tal cansados. Quero ver tudo e quero que o meu marido tudo veja, o que me duplica as coisas a ver: a envolvente e as reacções dele. Vejo uma chocolataria artesanal com Schultüten na montra. Shultüten... Memórias, familiaridades. Os Schultüten são uns cones de cartolina que as crianças levam no primeiro dia de aulas. Vão cheios de gulodices e materiais escolares diversos e coloridos. Entro. O chocolateiro, dono da loja, faz-nos uma demonstração de como molda ursos de chocolate e outras criatividades, como instrumentos musicais à escala normal para clientes excêntricos. É tudo muito giro mas eu quero mesmo é comprar dois Schultüten para levar para os meus sobrinhos de 6 e 4 anos. Quero que passem pela experiência. Porém, criados à portuguesa vão olhar para os cones como apenas, e só, mais umas lembranças que a tia lhes traz. Os Schultüten não lhes dizem o mesmo que me dizem a mim. Talvez um dia tenham a memória de a tia lhes ter dado umas coisas engraçadas e típicas do seu primeiro país. Por ora, são só umas embalagens curiosas com guloseimas, lápis de cor e borrachas. Enfim, fiz o que o coração mandou...
Sigo o passeio, embrulhada na felicidade quente que emana dos Schultüten da minha infância. Impossível vir a Rothenburg sem que a infância, onde quer que tenha sido passada, como quer que tenha sido passada, não nos assalte. Só por isso, creio Rothenburg uma cidade de paz e afabilidade. Que bom não ter morrido sem nunca aqui ter vindo...
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