À beira do Reno, essa via rápida da Europa, e à sombra da catedral existem excelentes oportunidades para uma paragem para desfrutar o cenário e as maravilhas de Colónia. Quero surpreender o meu marido, mergulhado-o, metaforicamente, no complexo mundo das cervejas alemãs. Colónia é um óptimo local para esse rito de passagem já que Colónia é famosa pela sua Kölsch, a cerveja típica cá do sítio e, para mim, "a" cerveja (ou seja, mais outra das originalidades de Colónia). Entro numa Bierhaus com esplanada virada para o rio, uma das muitas, e pergunto se tem Kölsh.
- Mas há outra? - pergunta a rir o empregado. - Claro que há! É só o que há! - exclama como se o mundo multiplural da cerveja se resumisse a esta. O meu marido nota o humor e olha para mim como quem pensa que, afinal, estes tipos germânicos até têm esse sentido fino que os estereótipos lhes retiram. Sentamo-nos e eu peço uma Halver Hahn para cada um de nós. É a sanduíche típica de Colónia. Enquanto aguardamos, leio, ou tento, os dizeres da "Constituição de Colónia", as Kölsche Grundgesetze. Maravilho-me em continuidade com a riqueza linguística deste país. Uma vez li um artigo no The Guardian a confirmar o que nós sabemos e que a maioria dos estrangeiros ignora: na Alemanha a língua menos falada é o Alemão. Rio mentalmente nessa lembrança. Aliás, o adjectivo para denominar "de Colónia" em Alemão é "Kölnisch" mas na língua falada em Colónia é "Kölsch", tal como a cerveja. Faço a tentativa de ler, mas sucumbo à ignorância.
Chega a cerveja e eu anseio o veredicto do meu marido. "Deliciosa!" Suspiro de alívio e contentamento. Sim, é. Genuinamente, é. Passará o resto da viagem em busca de Kölsch mesmo que eu lhe repita à exaustão que Kölsch é Kölsch por ser de Colónia e só de Colónia. Provará mais cervejas típicas mas nenhuma lhe vai causar e delícia desta. Entretidos nesta apreciação chegam as sanduíches.
- E como é suposto eu comer isto? - pergunta o meu marido ante a visão de uma sanduíche desmontada.
- Fácil. só tens de a compor com os seus elementos - digo eu, para quem a tarefa não poderia ser mais evidente. Ali está um pãozinho, um frasco de mostarda, um pacotinho de manteiga (não há sandes sem manteiga, ok?), uma fatia de queijo edam que dá para um regimento, um pouco de salada e uma porção generosa de rodelas de cebola. Mãos à obra. Ora, o Reno à frente, a Catedral atrás, uma bela Kölsch (até foi mais do que uma...), uma Halver Hahn, uma esplanada sob os pingos da chuva, o meu marido a ser iniciado nestas coisas de Colónia e estou no paraíso. Aproveito cada longo segundo para fazer render o tempo.
Sem comentários:
Enviar um comentário