Sendo uma estrada, e aí vem pleonasmo, a Estrada Romântica é uma sucessão de cidades. A seguinte no nosso cardápio é Donauwörth que, sendo uma gema, deve ser daquelas cidades coitadinhas que, ao cabo de tanta cidadezinha pitoresca, deixam de constar na memória do viajante. Uma pena. É, como todas as cidades aqui, caracterizada pelas casas coloridas de telhados a pique, igrejas imponentes e letreiros de hotéis e restaurantes que nos fartamos de fotografar como quem faz uma colecção. Icónica em Donauwörth, a rua principal, a Reichsstrasse (literalmente "Rua Rica"). Percebe-se facilmente porquê. Larga. Ladeada de edifícios de vários pisos. Comercial. Mesmo a uma hora morta, como aquela em que a percorremos, tem uma atmosfera viva. Dá prazer deter o passo. Tal como dá prazer levantar a cabeça para ver as singularidades que se exibem nas paredes das casas.
O meu marido perde-se em admiração por uns sinos à volta do relógio da Câmara. De nariz no ar, nem se apercebe que está no meio da rua. Corrijo, está especado em plena via de trânsito, ali em cima do alcatrão. Já lhe expliquei um cento de vezes como deve atravessar uma rua na Alemanha. Passadeira: sempre. Respeito pelos sinais: sempre. E ali está ele como se nada fosse a tirar retratos aos sinos.
- Não vem carro nenhum - oiço-o dizer na rua vazia. Nem respondo.
Vem um autocarro. Claro, os autocarros circulam na via a eles designada e claro, uma rua só está vazia até chegar o próximo veículo. A via onde, presentemente, o meu rico marido faz poiso a contemplar as vistas é para os carros não para os peões incautos. Oiço buzinar. Viro as costas à cena. Uma buzinadela por estas partes só significa uma coisa: fúria. Um transeunte sobe a rua na minha direcção e vê o horror que se desenrola perante os seus olhos: um idiota qualquer está no meio da estrada. Olha para mim, em busca de aprovação e diz mesmo "Idiota" ao idiota que está a empecilhar o trânsito. Confirmo com um encolher de ombros que sim que aquilo ali era um idiota e continuo a andar esperando que o meu marido não se lembre de chamar por mim. Neste momento, não conheço o meu marido...
1 comentário:
Cá por casa acontece o mesmo... mas ao contrário!
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