Passo por isto a segunda vez na vida. De ambas as vezes, a mesma sensação aliviada de pôr um certo arrumo na morte, a minha.
Da primeira vez, foi uma necessidade óbvia e premente que me fez testamentar-me. A lei portuguesa contra mim, contra os meus desejos últimos e primeiros. O meu infindável divórcio que estava no começo e o imperativo sentido de proteger os meus face aos direitos legais, mas não morais, do meu ex-marido que, sem o divórcio averbado, seria sempre meu herdeiro universal. deserdei-o no que a lei me permitia, ou seja, até 50% do património por mim detido. Achei uma ofensa, uma imoralidade que, naquela guerra, eu tivesse de ceder a uma lei que me fustigava. Determinei-me a não morrer enquanto o divórcio não se concluísse. Consegui.
Agora, numa fase nova, outras necessidades do meu querer derradeiro me levam a um testamento. Razões pragmáticas e aliviadoras. As testemunhas que me assistem no acto legal verbalizam o desconforto de me verem ali a tratar da minha finitude. Rio-me. Desdramatizo. Digo-lhes do meu alívio e da minha alegria por deixar coisas tratadas e arrumadas, eu que não gosto de embrulhos e confusões.
Sim, é alívio. Nada melhor para a vida do que o tratamento pragmático e não mórbido da morte.
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