Este é um blog que se está a tornar recorrente em obituários (não sei se gosto disso mas a vida vive-se de epitáfios e partidas constantes).
Hoje soubémos que as Letras Portuguesas se empobreceram com a partida de Joel Serrão, o historiador que nos lega a visão moderna da História no Portugal Contemporâneo (e estou a parafrasear um outro historiador que, antes de Joel Serrão, nos ensinou a História e nos deu o modelo novecentista finissecular da História pátria, Oliveira Martins. Afinal como melhor homenagear um historiador se não com a invocação de outro?).
Desgosta-me contudo que os principais órgãos noticiosos online repitam ad nausea o mesmo texto ínsipido sobre Joel Serrão. Sempre a mesma repetição do comunicado da Lusa dado pelo departamento de História da FCSH. Não havia ninguém que em cinco minutos produzisse um breve texto original? Afinal, se temos um monumental Dicionário da História de Portugal a alguém o devemos, ou não? Eu produzi uma tese de duzentas e muitas páginas, outra de seiscentas e tantas e, se acho isso uma monstruosidade colossal de papel e factos, o que podemos dizer de alguém que edita a história de um povo épico? Eu não seria capaz. Duvido de que muitos o fossem, e o que se faz é uma transcrição noticiosa, pastiche de outra.
Ademais, fazendo uma busca nesta coisa gigantesca que é a net, alguém encontra uma entrada sobre Joel Serrão na Wikipedia? Pois... Somos um paízinho que trata muito bem os seus intelectuais e, sobretudo, os seus homens e mulheres de Letras.
Escrevo ainda outro obituário. Desta feita, à Língua Portuguesa. Foi hoje ratificado o novo acordo ortográfico que contempla um período transitório de seis anos. Habituemo-nos, então!
Deixo-vos uma imagem que, para mim, vale mais de mil. A capa da Nau Catrineta, o livro onde li as primeiras letras em Português, o livro em que me deparei pela primeira vez com a História deste país que comecei a chamar meu.
História e palavras hoje têm um dia para a História.
24 comentários:
Blonde,
Conheci-te no Peter e por aí nos temos cruzado. Já cá tinha vindo mesmo sem ser convidada, sobrevoando apenas. Mas hoje não pude deixar de manifestar o meu acordo contigo.
Sabes quem morreu, e que tem sido noticiado hora a hora... o pai do treinador do Benfica, pessoa de quem nunca ouvi falar, e que de relação com este quintal, dó tem o facto de ser pai de um treinador e estranbeiro.
Ai pensavas que iam falar do Joel Serrão... Joel quê? quem é esse?
Experimenta perguntar e vês a resposta que te dão.
Desculpa o desabafo, mas eu vou falar dele... e já agora do Mário Cláudio que recebeu no sábado o prémio Virgílio Ferreira... Ouviste ou leste alguma coisa?
Um abraço
Olhe ...
Se houver muitos que saibam algo do seu legado mesmo que não saibam a quem o devem, já não seria mau!
Como sucede com Cortesão, V Magalhães Godinho e Miriam Halperne Pereira (ainda será viva ? ). Gente que nos deixou uma memória colectiva arrumada. A ver vamos quem lhes segue o mérito, em engenho e arte.
Simples e bonita homenagem
saudações amigas
Uma excelente homenagem.
Pena que Portugal dê tão pouca importância aquilo que tem de bom.
Os holofotes do mediatismo estão sempre apontados para o mau e para a politica e mesmo assim para iluminar o mau raramente o bom.
-Quanto ao historiador Joel Serrão respeitar o seu legado, já que viveu um ciclo de vida respeitável, honremos pois a memória. Quanto á lingua portuguesa, pela parte que me toca, não mudarei uma virgula, nem deixarei cair qualquer C ou H. Profissionalmente, recusarei propostas de fornecedores que venham escritas em Brasileiro, é que ninguém me vende um euro, nem que tenha que adquirir bens e serviços em Espanha. Mas ainda temos 6 anos para lutar contra o acordo, pode ser que o Menezes pegue na causa, e o governo em véspera de eleições recue, isto ainda não acabou.
Também por lá andei pela FLL, onde fiz o Curso de História, nessa altura com Bacharelato ao fim dos 3anos e acesso ao Ensino Secundário e mais dois anos de Licenciatura e fiquei-me por aí.
Sempre desejei adquirir o Dicionário da História de Portugal, mas, nessa altura, tive de ficar pelo desejo.
É um país estranho este em que vivemos, aliás sempre foi assim, pelo menos desde os tempos de Eça e de Ramalho Ortigão.
Não admira pois que os nossos engenheiros estejam rumando a Suecia e que os Informáticos rumem a Espanha, sem qualquer desejo de regresso.
Até que a voz nos doa, até que a voz nos doa ... mas que nunca se deixe de dar o devido valor áqueles que o merecem.
Dear Meg,
I'm so happy for this visit! Aparece sempre, sobrevoa ou como quiseres que és benvinda!
Concordo, é um desconhecimento gravíssimo e uma falta de cultura gritante não saber que o pai do treinador do Benfica morreu!
Mário Cláudio, aposto que muito pouca gente sabe quem ele é. Aposto que nem os nortenhos sabem que ele é do Puarto! Vai uma aposta?
Ó Manuel,
Desculpe a petulância mas acho que podia contribuir um pouco para a "awareness" (desculpe, esqueço-me do termo portugês) ambiental colectiva com os seus textos e, dessa feita, encarreirar também nessa esteira. Está à espera de quê para dar os seus textos a conhecer a um público mais vasto?
Dear CValente,
Obrigada! Retribuo as saudações!
Dearest Blue,
Nem sabes como te percebo rapariga! Houve uma época da minha vida que tive de fazer um segundo escritório cá em casa porque de cada vez que ia trabalhar até o cheiro dos papéis me dava náuseas (e não é sentido figurado!!).
Mas, francamente, por muito exaustos que os jornalistas andem umas linhas é pedir muito?
Dearest Blue (again),
Esqueci-me de te dizer uma coisa importantíssima! Leio sempre os teus comments onde te encontro. A tua escrita não é nada uma escrita cansada. E mais, como já uma vez aqui escrevi, considero que tens uma incrível lucidez demonstrada na serenidade das tuas palavras.
Dear Tiago,
Tens razão, é sempre o mediatismo da massificação que conta! As coisas realmente importantes não valem nada actualmente. Morre um dos maiores historiadores do séc. XX e, como diz a Meg, o que importa é que morreu o pai do treinador do Benfica!!!!!
Dear António de Almeida,
Benvindo à minha causa! Se soubesse o que me irrita este acordo ortográfico! Se soubesse como me desgosta que o Português leve mais acertos que o Português Brasileiro!!! Não falo mais porque ainda me vão chamar reaccionária ou coisas piores.
Partilho da sua indignação e obrigado por a partilhar comigo!
Dear Peter,
Penso inúmeras vezes no Eça e nbo Ramalho e como as suas críticas mordazes tão bem se continuam a aplicar neste país que se recusa a progredir e a sair da sua habitual mesquinhez. Então da mesquinhez intelectual o que dizer?
Quinn, my man,
Levanta aí a tua voz homem de Deus! Junta-te aqui a este pequeno coro de protesto que se indigna com certos esquecimentos pátrios!
Parte-se de um lado para se chegar a outro, pelo caminho ficam os que nos recordam, framentos que não nos coube resgatar.
Carol dear,
Deixa lá as desilusões da vida e concentra-te é no tal do campo em que andas bem;)
Pois... o país... Que mais dizer?
Dear Antonio,
So poetic are we today!
A propósito do tema, neste caso de quem é a "culpa"? Do governo, das universidades, de cada um de nós?
Eu proponho que se crie um Ministério da Cultura. Este ministério teria por missão promover a cultura, a língua portuguesa e o conjunto de personalidades (que nas mais diversas áreas) contribuiram para a "missão" de se ser português.
Estou certo que se trata de uma ideia original...
Antonio,
Ideia genial!!!! Como é que ninguém ainda pensou nisso? Era óptimo que houvesse uma entidade com peso institucional para tratar da desgraçada da cultura em Portugal. É que já não se aguenta tanto futebol e tanto Tony Carreira!!!!!!
Carol,
Eu diria mais, o nosso Antonio é mesmo um biluminado (bi-iluminado, get it?) :D
Sempre amei os meus mestres na Faculdade, em especial os que me viam como pessoa e liam efectivamente os meus trabalhos e testes e os que se me tornavam maravilhosos por os ler. Joel Serrão merece muito mais que o que lhe deram.
Havendo tu, eu, o António, Tiago e o Tarantino, há condições.
PALAVROSSAVRVS REX
Josh dear,
Vamos lá então arranjar um programa para a Cultura!
Enviar um comentário