29 de abril de 2008

Água é o Futuro!


Já Camões usava o Velho do Restelo para criticar aquele passadismo caduco que se interpõe à mudança e se arma em barreira do progresso. Quinhentos anos volvidos e os Velhos do Restelo continuam vivos, de boa saúde e engulhosos como sempre.

Agora, armam-se bandos de ambientalistas e lá vão em peregrinação, comunicação social atrás que é para o sensacionalismo da coisa, acampar em protesto para o Baixo Sabor. Que não senhora, uma barragem ali é a calamidade ecológica, que não senhora, que o rio vai deixar de ser selvagem, que não senhora, por aí fora.

Pois, agora digo eu que não senhora, que andam todos doentes, com palas nos olhos (como certos quadrúpedes que também foram levados na peregrinação, com certeza para afirmarem que não querem mexidas no habitat!).

São precisas barragens! As guerras do séc. XXI serão as guerras da água! Será que os senhores e senhoras ambientalistas já se aperceberam disso? E a energia? Acaso não somos um país perigosamente dependente da importação energética? E isso já viram? Lembram-se de Foz Côa?

Eu lembro. Foi a gritaria lobbista ensurdecedora e mal-fundamentada, se me perguntam. A barragem ia ser um desastre. As figuras rupestres iam por água abaixo (literalmente) e lá se perdia o património. E a povoação só tinha a ganhar com o eco-turismo que ia atrair hordas de gente e levar prosperidade à região.

Então, pergunto eu (na ingenuidade do neurónio louro em curto-circuito): onde está o turismo? Onde pára o desenvolvimento? E as ditas gravuras não podiam, simplesmente, ser trasladadas para um outro local? Vão lá perguntar aos habitantes de Foz Côa o que é que eles lucraram.

Querem um exemplo que aniquila já os protestos em Foz Côa? O que é que o Egipto fez em Assuão? Construiu a barragem Nasser que trouxe, de facto desenvolvimento à região depauperada do Baixo Nilo (sim, por acaso até já lá estive na dita e não vi que fosse um desastre ambiental ou um atentado ao património). E lá não havia figuras rupestres espalhadas aqui e ali. Havia vários complexos monumentais como Abu Simbel e Phillae que foram postos a seco. E mais, nunca conheci um egípcio que não louvasse a barragem (e nem me venham comparar o Nilo com o Sabor!).

Então não deixem construir a barragem no Sabor. Continuem no passadismo que o rio tem de ficar selvagem (o que quer que isso signifique) e deixem que quando Espanha não cumprir com os caudais mínimos (ou esperam que isso não vá suceder?) nós vamos nadar em água e energia!

Vão lá de burro e saudosismos hippies protestar para o rio que eu quero ver o benefício que isso traz! O futuro é hoje!

23 comentários:

Contacte-nos disse...

Saudosismos Hippies é lindo, no contexto do Nilo substituiria por saudosismo Hipo.:)
Já no que toca à defesa do Património, confesso, sou um bocadinho Taliban, enfim, não se pode sempre concordar com tudo.

Cheers

Blondewithaphd disse...

Yo Taliban! I thought you were the Jedi kind! Wasn't expecting anything less coming from your field! But hey, great ideas are born out of disagreement;)

Cheerio!

Anónimo disse...

caramba, isto vai acabar mal ... primeiro os BSB, agora o Sabor!

Menina, tu até tens razão quando dizes que o futuro é hoje e que a água é o futuro (não se podia também considerar o vinho?, pergunto eu), mas olha que no Sabor mais que a água, ao que julgo saber, está em causa a electricidade e a EDP.

Queiras ou não, a construção de uma barragem tem sempre implicações ambientais pelo que a edificação desta no Sabor irá alterar o ecosistema que ali existe.
Em que medida e proporção desconheço.

Admitiria, isso sim, que se procurassem soluções de consenso entre ambientalistas e empreendedores se ambas as partes tivessem bom senso o que não é, reconhecidamente, o caso.

Eu não andei lá nas manifestações, mas conheço o rio e tem locais lindos de morrer tal como está. Nalguns casos, se calhar só mesmo de burro lá se chega!

Sorry ...

António de Almeida disse...

-Seria tentado a concordar com o Quint, que se procurassem soluções de consenso, se me apresentassem uma única obra com impactos ambientais que os ecologistas tenham concordado ser necessária, e ajudassem na diminuição dos impactos provocados pela mesma. Assim de repente não me recordo de nenhuma, pelo contrário, por eles ainda hoje não tinhamos Auto-Estrada até ao Algarve, em bom rigor, se há uns milhares de anos existissem a Querqus e o Geota até tinham procurado boicotar a invenção da roda. Os cães ladram mas a caravana passa, construa-se a barragem.

Blondewithaphd disse...

Quinn, my most adorable advisor, consultant, etc,

Vai agora acabar mal;) E, que eu saiba, gostos (musicais) não se discutem!
Quanto ao Sabor, o que é que tem a EDP? Alguém vai ter de fazer a barragem. E os danos ambientais, bem são danos colaterais como em tudo, mas não vislumbro uma hacatombe.
Negociações com grupos ambientalistas? Desculpa, mas isso é negociar com um muro de betão!
Sorry me... ;)

Blondewithaphd disse...

Antonio de Almeida,
Eu não queria ser tão radicalista, mas... até concordo. Nestas coisas só me lembro sempre dos flamingos do Samouco!

Tiago R Cardoso disse...

A minha discordância vai para uma visão governamental de querer ser energeticamente verde e depois causar lesões profundas ao ambiente.

Construir grandes barragens originando grandes lagos, altera de forma importante o ambiente, clima e diversidade da região.

Altera um sistema dinâmico e equilibrado do ecossistema, destrói muito do que foi criado pela natureza.

A outro nível, a construção de barragens em todo o lado em muitos casos significa uma destruição dos recursos turísticos e de excelentes locais que temos por cá.

O exemplo é a barragem do Tua, para alem de ir afundar uma linha que acabou à pouco tempo de ser reconstruida, com um enorme investimento publico, vai afundar termas e vinhas.

Energia renovável, muito bem, diminuição da dependência energética, muito bem, a todo o custo, não obrigado.

Blondewithaphd disse...

So true Carol!!!!

Blondewithaphd disse...

Dear Tiago,
Apetece-me perguntar: o que é que gera mais benefícios para a economia, as termas e vinhas no Tua ou uma barragem?

Manuel Rocha disse...

Olá Blondy !

Como já deves ter reparado, estou contigo na militãncia contra todas as hipocrisias e activismos, ambientais ou outros.

Mas também não consigo discutir "uma barragem" sem antes ter discutido a bondade do objectivo de politica que ela pretende resolver. Produção de energia ? Reserva hidrica ? Mas para que modelos de consumo ? Damos por adquirido e pacífico que o modelo social em que existimos é bom e recomenda-se ,e por conseguinte há que o dotar de mais infraestruturas que têm na subordinação do rendimento à potência o seu denominador comum ?

Como sabes tenho sérias reservas sobre esse processo. Ora o teu texto assenta num pressuposto que não me agrada, confesso, porque é semelhante aquele que faz com que num percurso em que se nos sentimos meio perdidos se decide avançar, mesmo se às cegas, porque o regresso está fora de causa, embora ninguém consiga explicar exactamente porquê.

O teu exemplo de Assuão não o acho bom. Foi um projecto de vistas curtas. Deu por adquiridos e inegociáveis pressupostos errados, quando encarou as cheias como um mal e julgou que o futuro da agricultura estava na industrialização.

Blondewithaphd disse...

Dear Manel,
Sabes que nestes assuntos discutir contigo é discutir com a Eminência ambiental e demito-me desde já desse confronto;)
No entanto, porém, contudo, o meu cerne da questão é achar desprezível (passo a fortaleza da palavra) a militância verde, auto-proclamada salvadora do planeta que acha que somos todos uns neo-liberais meio fascistóides e achar, ademais, que o tipo de propaganda que estão a fazer do rio Sabor ser totalmente falseada em premissas descabidas.
Eu sou, possa não parecer, toda pela natureza, a preservação dos ecossistemas e por aí fora (e também sei que o represamento do Nilo não trouxe só benefícios) mas virem-me para a TV dizer que o Sabor é para manter selvagem porque sim e ponto final... Desculpa, mas esses autoritarismos, ou melhor, autismos, são as razões mais obtusas e absurdas. Mais, ainda, do que as minhas opiniões politicamente incorrectas.
Então aquela de levarem os burros para passear nas margens do rio é de ir às lágrimas (acho que de riso pela parvidade).

Manuel Rocha disse...

Lol !

Foram de burro ?!
Esses gajos não são cromos, mas autocolantes, mesmo ! Uma vez usados nem dão para a troca ...:))

Sim, percebi o teu ponto. E tu também percebeste o meu, tenho a certeza.

Conta comigo para fazer frente aos dois lobys: aos que são contra a barragem, porque sim, e aos que são pela barragem, porque sim !

Invejo a malta que atinge cedo a idade das certezas e não as perde mais. Sou um desgraçado nessa matéria. Todos os dias tenho mais dúvidas e menos certezas. Por isso aderi ao método Alentejano: antes devagar e bem que depressa e mal! Este tipo de intervenções de larga escala são como o sal na comida. Depois de posto a mais não há como o retirar de lá, certo? Portanto...

Manuel Rocha disse...

Pronto, agora um pouquinho de conversa séria....

Onde essa malta costuma estampar-se quando analisa esse tipo de projectos é que lhes aplica uma grelha formatada por uma noção monetarista e cambial da actividade económica. E depois não conseguem fazer projecções sólidas sobre a produtividade primária comparada dos sistemas ( com / sem investimento ) e muito menos ainda explicar isso às pessoas. E é pena. Porque acabamos por andar todos a tomar posição sobre temas que têm implicações de longa duração em cima de um bóia que deriva com ventos e marés: a bitola da taxa cambial em uso e respectivas ramificações nos preços....:(

antonio ganhão disse...

Sem essa barragem, toda essa àgua se perderia no mar... um desperdício, muito superior às descargas do meu autoclismo!

Como podemos combater a seca se desperdiçamos os nossos rios nesse imenso mar? Que este (mar) se alimente do degelo das calotes polares!

Blondewithaphd disse...

Quite right Manel!!!
Então essa das certezinhas absolutas é o que de mais se encontra por aí! Engraçado como as minhas certezas também se volatilizam tantas vezes. Enfim, é o quadradismo e a formatação rígida.
Até posso inverter o sentido da marcha e vir protestar que não quero uma barragem no Sabor. Até me explicarem cabalmente porque devo protestar contra vão ter-me do lado oposto da barricada.
Acho que nos podemos juntar!!

Blondewithaphd disse...

Antonio,
Sabes que, por exemplo, em Marocos já há rios que não desaguam no mar? Precisamente para evitar esse desperdício! AQui ainda pensamos que temos água com fartura. E desde que ela corra nas torneiras das grandes aglomerações urbanas, o que é que temos com isso se no Alentejo profundo e em Trás-os-Montes os desgraçados tenham de esperar que o camião cisterna dos bombeiros lhes vá encher os cântaros?

antonio ganhão disse...

Blonde, eu estava a brincar... mas talvez estejamos demasiado próximos de Marrocos, pelo menos do Marocos cultural.

Mas sou favorável à construção da barragem.

JOY disse...

Olá Blonde

Sou um defensor do meio ambiente , mas confesso que ás vezes o radicalismo dos ambientalistas me faz saltar a tampa,compreendo que se tenha de ter procupações com o ambiente ,isso é uma coisa agora outra coisa é a falta de senso para algumas situações impedindo o progresso e o melhorar das condições de vida por causa de uma formiga qualquer .O Exemplo que deste e o do Ant. Almeida são ilucidativos.

Fica Bem
Joy

Manuel Rocha disse...

António,

Favorável porque ?

( estou a sério...)

Blondewithaphd disse...

Eheheh Antonio!,
Vais ter de responder ao Manel;)

Blondewithaphd disse...

Dear Joy,
É precisamente o fundamentalismo que me dá cabo da cabeça e me impede, logo à partida, de credibilizar o discurso ambientalista.

Blondewithaphd disse...

Ah, ganda Manel! Isso é que é assertividade;)

antonio ganhão disse...

Manuel, parece-me óbvio: se vamos deixar de ter água, uma barragem é uma forma de a segurar. A biodiversidade já estava condenada de qulaquer forma... Conhece o meu amigo Antimio?