Há uns onze anos entrava eu pela primeira vez na Galiza. Ia à procura das "Ondas do Mar de Vigo", porque a poesia trovadoresca era a única que me fazia sentido nesta língua, a única que eu conseguia ler e perceber. Ia à procura do Caminho de Santiago e levava, para isso, um desdobrável em alemão cheio de mapas e muitas indicações históricas. E ia à procura de Finisterra, queria saber se aquele cabo era assim tão selvagem e místico como diziam. Queria, enfim, encontrar-me a sós comigo.
Estávamos já a despedir-nos da Mãe e eu queria que houvesse algo que fizesse sentido. Sentia-me, na altura, muito perto do transcendente e a Galiza parecia-me um local misterioso onde sagrados e profanos se interligavam. Eu precisava do espaço sagrado numa dimensão fenomenal, primeva e telúrica. Parti.
Assim que atravessei a fronteira despertei para a dimensão terrena. Na berma da estrada, escrito a branco, um protesto ou um desejo: "Galicia es Portugal". Identifiquei-me com aquilo. A Galiza é o que nos falta no Ocidente Atlântico da Ibéria. E claro, quem estuda impérios, contagia-se facilmente por visões estratégicas: um Ocidente português, o baluarte luso ante a Espanha.
A partir de hoje, o Norte português e a Galiza estão unidos administrativamente numa macro-região que pode concorrer conjuntamente a projectos e financiamentos europeus. Onze anos depois voltei a pensar que, irremediavelmente, a Galiza nunca poderá cortar o cordão umbilical linguístico-histórico que a une a Portugal. A Galiza não é Portugal, mas partilha algo da Portucalidade.
De Portugal, eu fui lá buscar a sacralidade monumental da Despedida.
35 comentários:
Adoro o norte do pais e a galiza. Vou sempre de férias perto de Caminha e é impossivel não dar um saltinho a Baiona para nos empantorrarmos de marisco a 5 tostões e para ver a beleza daquelas aldeias...é um fim do mundo lindissimo.
beijos
Humm, então deve ter sido por isso que hoje os galegos despejaram um camião cisterna cheio de leite português;), Galicia es mesmo à Portugal, pelo menos os sindicatos.
E sim, é mui lindo.
Olá Blonde
Isto não está fácil para visitar os amigos. Mas sempre que há uma brecha de tempo aqui estou.
Tenho as melhores recordações da Galiza, passei lá das melhores férias da minha vida e comecei a namorar com a minha mais que muito.
adoro a Galiza.
Fica bem
Joy
Por mim todo o país podia ser Espanha, Barcelona ou Vigo.
Jo,
Fim do mundo... Finisterra.
João,
Nós faríamos o mesmo ao leite deles, right? Isto ele nunca há convivências pacíficas...
Joy,
Não terei passado das melhores férias da minha vida na Galiza, mas que é um sítio óptimo para recarregar baterias e meter a cabeça em ordem, lá isso é.
Carol dear,
Também não exageres:) Já sabes que a minha relação com tudo o que não seja prosa muito escorreitinha é um tanto ou quanto difícil.
E eles despejam o leite e nós atiramos com os mexilhões deles borda fora! (isto para não dizer que fazemos tipo Astérix e cabum nos frontispícios deles!!)
Implume,
Seu imperialista ibérico!:)
Loira,
Exactamente :)
beijos
Também gosto do Norte e da Galicia.
Até os conseguimos entender!!!
Deixo aqui uma homenagem à Galicia:
http://www.youtube.com/watch?v=XoCC7hjqca4
Abraço
A Galiza é terra de nevoeiros, brumas e lendas ... mas também o é de terras tremendas, gentes simpáticas cuja língua entendemos às mil maravilhas.
Existem cidades, aldeias e lugarejos mil para se verem, onde passear e ir saltitando de tasco em tasco à cata de petiscos saborosos.
Aquilo é terra de celtas e seus descendentes, onde ainda existem gaiteiros e gaiteiras ... que mais valera que nunca tivesse sido separada do Norte de Portugal ...
Desminto é que seja como diz a Joaninha que o marisco seja a 5 tostões ... ele já nem tostões existem ... e não é preciso ir a Baiona, minha cara ... em Caminha atravessa-se para A Guardia e junto ao portinho de mar há lá sítios de bom trincar!
Um segredo: do lado de cá também os há.
-Portugal tem origem na Galiza, é natural que exista uma maior afinidade entre ambos, do que por exemplo entre Galiza e Castela. Adoro a Galiza!
Reparei e alegrei-me com a notícia. Galiza e Portugal têm a mesma matriz cultural e linguística e a contiguidade geográfica que se percebe. O futuro pode ser estranho e se as duas regiões se congregam e são uma unidade de carácter mais económico e político, não sabemos o resultado das longas reivindicações unionistas que muitos galegos intentam há séculos concretizar.
PALAVROSSAVRVS REX
Ferreira Pinto!
Do lado de cá é mais caro meu amigo. Em Baiona o marisco é de cultura e de ria, é bastante mais baratinho do que o nosso. Menos saboroso também, mas não se pode ter tudo.
Olhe que eu passo férias ali desde que me conheço por gente, sei bem dos petisco tanto de um lado como do outro.
Mas não nos vamos zangar por isso. Vou sempre (ou quase sempre) a Baiona porque o passeio é bonito, porque a cidade é bonita e porque as travessas enormes de marisco são mais baratas. Tudo junto vale sempre a pena o passeio naqueles dias em que a nortada torna a praia impraticavel.
beijos meu caro!
Cresci cirandando entre o Porto e a Galiza, senti-me desde sempre ibérico e lamentei muitas vezes que D. Afonso Henriques tivesse desistido de rumar a Norte, em vez de enfrentar os "mouros".
Continuo a ir à Galiza sempre que posso, mas não em busca de marisco. O que me encanta e os faz tão diferentes de nós, embora tão parecidos, é o seu estilo de vida.
JOANINHA dizes bem, a nortada ali é um biscate dos sérios ... quanto ao resto, claro que é um passeio agradável ... e havíamos lá de nos zangar à conta de uma travessa de marisco ... por falar nisso, e que tal um peixinho no Ibrahím?
Jo e Ferreira,
Pensava eu que sabia umas coisas da Galiza... Nunca estive em Baiona (hmm... I think). E não "se chatearem" por causa de travessas de mariscada, right? Lindos!
Lusitano,
É verdade. Eu, da primeira vez que lá fui, ia toda artilhada para falar o meu melhor castelhano e dei por mim a falar português com toda a gente. Mas acho que quanto mais para Norte menos eles falam galego e mais falam castelhano. Em A Coruña não me pareceu que usassemtanto o galego como cá mais em baixo.
António,
Já somos dois! Mas ainda falta muito para conhecer (no meu caso, claro).
Josh,
O estranho aqui, parece-me, é a associação entre uma região autónoma e um país, não sei como é que a coisa vai funcionar entre duas entidades administrativas tão diferentes. Quanto ao unionismo galego, não creio que, neste momento, os galegos o queiram.
Carlos,
Eu não conheço assim tão bem a Galiza. Pudera, só lá estive duas vezes! Mas do que vi gostei imenso (até de andar a passear à chuva em Vigo, encharcada até aos ossos, em pleno Agosto!). Mas também gosto muito que o D. Afonso Henriques tenha vindo à espadeirada por aí abaixo! Já viu o que era uma moura loura? Não dava, não é?:)
Hum ... e Vossa Senhoria, por mor de local de residência, não é moura?
Ó Ferreira,
Então man, estamos numa de Norte/Sul ou quê? Moura mas mais nortenha que Va. Exa., é tudo uma questão de latitude! Olha-m'este!
Tu não és servida de Banda Larga, pois não?! Queria que tivesses mais facilidade em comentar-me multiliguemente, Linda. Será assim tão difícil?!
PALAVROSSAVRVS REX
Ferreira Pinto,
Combinado, não conheço o local mas peixinho lá em cima é sempre bom. Convidamos a Sra. Dra. Loira?
E que tal umas costelinhas em Caminha?
beijos
Josh,
Banda larga, what? Tu "alembra-te" qu'isto com louras é preciso ser-se explícito. Hab'ich verstanden, dass wir auf Deutsch (nicht nur sondern auch) sprechen sollen?
Jo,
Esta Sra. Dra. loura está no ir!!!
Genau das, Blonde, wir sollen auf Deutsch sprechen [nicht nur sondern auch]! Genau das!
PALAVROSSAVRVS REX
Aber, Josh,
warum sollen wir auf Deutsch miteinander reden? Besser, warum willst Du das?
"A Galiza não é Portugal, mas partilha algo da Portugalidade", concordo inteiramente.
Meus irmãos galegos.
Loira,
então temos de combinar um dia destes :)
kiss
Eu não sei que combinações são essas, mas se andam a conspirar alguma coisa avisem ...
Carol mulher,
estou mas a ver que eu ainda acabo por pintar o cabelo de loiro :)
Weil ist's besser als gut, Blonde!
PALAVROSSAVRVS REX
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