6 de julho de 2009

Há um ano... a Austrália... a Decisão



Sempre senti, e sem saber racionalmente porquê, um fascínio imenso pela Austrália. Não sei se pela distância, se pelo magnetismo dos Antípodas, se pelo isolamento. Só sei que li os relatos todos dos exploradores do Great Outback quando era miúda, o meu romance favorito continua a ser "The Thorn Birds" (eu sei, é uma lamechice apimbalhada, mas que hei-de fazer?), conheci Ayers Rock antes de ser Uluru, se bem que Uluru seja o primeiro, e o único momento de consolo que eu tive nas semanas antes da Mãe morrer foi as duas horas que passei no concerto dos Savage Garden (australianos, claro).
O ano passado, por esta altura, andava eu pela Austrália sem saber que um ano depois a minha vida tinha sofrido a maior das alterações. E sem saber, ademais, que foi nessa viagem que as decisões foram tomadas naquele estado de semi-(in)consciência que nos diz "Avança!" e que nós nem verbalizamos. Quem diria que, afinal, a Austrália, para onde eu uma vez até pensei emigrar, ia ter este papel decisivo na minha vida insignificante e anónima?
Acho que a solidão das horas infinitas de voo e os longos stop-overs nos aeroportos proporcionaram a calma de que o cérebro precisava para assentar num assunto que gritava em surdina e que eu relegava sempre para outro tempo e outro lugar. A Austrália foi, talvez, esse tempo e esse lugar. Não foram necessárias palavras para a decisão ser tomada. Eu sabia que a tinha tomado há muito tempo. Só precisava sentir que tinha a coragem. Ou seja, eu precisava sentir, não precisava falar comigo.
Aquele casamento nasceu morto logo depois da morte da Mãe, como se uma nova fase viesse para esconder a dor. Que engano! A dor da Mãe nunca foi escondida, e, ao invés, ganhei outra dor: a da solidão acompanhada. Mascarei-a com trabalho e carreira, escondi-a até de mim. Sabia que existia em forma omnipresente mas não a deixava tornar-se omnipotente até ao dia que percebi que era, de facto, omnipotente e que eu pautava a minha vida na fuga, tudo era feito para a fuga, para o não confronto. Na solidão australiana eu decidi. E a única coisa que me lembro ter verbalizado, no inglês em que me corre o pensamento, foi: "Girlfriend, you got some serious homework to do". Só isso. As únicas palavras que o meu cérebro produziu para me dizer que eu me ia divorciar e que nada nessa decisão poderia ser adiado.
No Sábado, a Juanita veio cá a casa e eu mostrei-lhe fotos da Austrália. Lembrei-me de há um ano e olho agora a vida diferente que me aconteceu. Penso nas coincidências maravilhosas da Vida: uma viagem, a Austrália de que sempre gostei e, afinal, por uma conjugação cósmica qualquer eu fui à Austrália para tratar de andar com a minha vida...

12 comentários:

Eu Mesma! disse...

Percebo o teu fascinio....
tb o tenho pela Australia e pela Nova Zelandia... mas até hoje ainda não fui a nenhum dos dois...

demasiado longe....
demasiadas horas de viagem ....

antonio ganhão disse...

Os grande espaços, completamente vazios, têm muito a ver com a cabeça de uma mulher e não tem nada a ver com magnetismo...

Peter disse...

Belíssimo texto. Gostei da forma como relacionou a morte da mãe com a viagem à Austrália.

Aceita uma sugestão? Se ainda não foi, vá à Nova Zelândia.

Tenha uma boa semana.

Quint disse...

As coisas que eu ando a topar!

Pedro disse...

os aeroportos são tanta coisa...
para mim, durante anos (9, nove anos!), até ao divórcio, foram ponto de passagem semanal, foram escritório, foram amizades, conhecimentos, simpatias, rarissimamente contrariedades: em 9 anos de voos semanais Lisboa-Bruxelas-Lisboa tive 2 contrariedades de avaria de avião e alteração do horário :-)
chegava e já tinha o cartão de embarque tratado, o meu lugar preferido reservado, no tempo em que check in pela net não existia :-)

também foi no aeroporto, e no avião, que pensei na vida, que ia, levava, na vida que me levava em vez de ser eu a levar-me na vida;
e houve um momento em que disse basta

Anónimo disse...

Nada como estar longe dos sítios e das pessoas que "frequentamos" para nos vermos de fora e tomarmos as grandes decisões. Comigo funciona sempre e por isso tenho até algum receio dessas longas ausências.

mdsol disse...

A necessidade do distanciamento. A necessidade de distância para ter distanciamento. O silêncio que lá longe convoca a clarividência. A clarividência que nos despe do ruído que ocupa o nosso som.
Força menina linda!
beijinho

Blondewithaphd disse...

Tu mesma!,
Eu é mesmo a Austrália. Não sei porquê a Nova Zelândia não me fascina tanto. Acho que talvez por causa das cenas todas com lama em "O Piano".

Implume,
Acontece que a minha cabecinha linda e loira está muuuuito ocupada por um mega-super-hiper neurónio!

Peter,
Obrigada! Antes da Nova ZelÂndia ainda quero conhecer mais e melhor a Austrália. Gostos...

Quinn, mah man,
E o que raio me andas tu a topar, criatura?

Pedro,
Confesso que aeroportos não me seduzem minimamente. Também não deliro com viagens de avião, não por medo, por tédio. Mas nas solidões das viagens penso sempre muito, escrevo um pouco e falo outro tanto com gente que nunca vi. Disso sim, disso gosto. Benvindo ao grupo dos viajantes pensadores:)

Rui,
Ui, as ausências... São tão boas, tão libertadoras. Gosto!

mdsol,
A convocação da clarividência... Belo! Achas que me posso apropriar da expressão? Deixas?

António de Almeida disse...

A vida é feita de equívocos. Compreendo-a muito bem!

Pedro disse...

falar com pessoas que não se conhece, em viagens de avião, é tão giro!
quando as pessoas se dão a isso, que a maioria das vezes fecham-se na defesa do seu espaço de conforto; mas quando acontece o diálogo, é bonito :-)

já me aconteceu:
- ir de conversa com a mulher (e o filho) de um político da nossa praça; não simpatizo com o dito, mas a mulher é simpática e interessante, foi uma viagem giríssima;
- ficar amigo de um piloto comandante (alemão) de aviação comercial (que tem casa na Austrália);
- conhecer o dono da empresa americana que trouxe a Portugal uma máquina de raios X para estudar a estrutura da ponte 25 de Abril quando foi dos trabalhos de manutenção e expansão para instalarem o comboio na via inferior;
- ir de conversa com um americano que gosta, como eu, do Richard Feynman (eu ia a ler um livro do dito);
- conhecer uma americana loura que vinha a Portugal para introduzir no mercado Português champagne (sort of champagne!) produzido na ... Califórnia :-))

e outros... :-)

mdsol disse...

Minha querida
Quem sou eu
Mas,se a expressão te agrada: be my guest

beijinhos
:))

mdsol disse...

Ah... Já agora tenta ir ler um comentáio qu edeixei a seguir a um teu no blog Eça é que é Hesse

:)))))