21 de setembro de 2009

Da maciez outonal


O calendário deu a volta e o ano lectivo começou. Vivo em anos lectivos desde que me entendo por gente e, por isso, sempre começo os meus anos, os de Vida, na calma do Outono. Acho que é a estação de que mais gosto. Acaba a luminosidade em excesso e o calor que pouco suporto. O céu fica límpido e a temperatura envolve-me de morno. É também quando a minha casa deixa de ser fresca para passar a ser fria e, não sei bem porquê, sinto mais o frio do Outono do que o do Inverno, talvez por este ser fino e o outro denso e constante ou porque este frio rompe com o calor e o do Inverno segue na sequência em que arrefecem os dias.
Quatro e tal da tarde. Chego a casa. Olho para a bougainvília que se agigantou no Verão. Pego numa tesoura de poda e vou cortar-lhe os ramos que lhe dão aquele ar selvagem. Apronto-a para hibernar no tempo frio. De vez em quando oiço um tractor que passa com tinas de uvas. Lembro-me bem das vindimas. Do cheiro a engaço que pairava no ar. Das filas de tractores que pacientavam em frente à adega. Das hordas de gente com baldes e cestos e tesouras em punho. Já mal se nota o amanho das vinhas, a colheita das uvas.
Eu gostava de ir à vinha com o Pai quando as uvas estavam maduras. Os ramos que se enleavam até ao chão e escondiam os cachos. E o Pai ia ver se as uvas já estavam boas e íamos comendo bagos à medida que passávamos entre os carreiros de videiras. Eram tempos bons. Eram tempos de Outono.
Acabo de podar a bougainvília. Entro em casa. Abro as janelas para a luz entrar com réstias de calor. É o primeiro dia que noto o Outono este ano.

13 comentários:

Djinn disse...

De facto já cheira a Outono, naquelas tonalidades do pôr-do-sol mais «envelhecidas» e menos brilhantes, no ar fresco das auroras e dos crepúsculos :).

É como sempre ouvi dizer desde pequena «a rentrée», para mim o ano mede-se de Outono a Outono :)

Então...boa «rentrée» :)

Pedro disse...

a primeira vez que notei a cor de Outono foi há muito tempo, parece uma eternidade, estava no Porto, tinha seguido para Espinho, para o Cinanima, dado boleia à Luísa, que aproveitou para dar um pulo ao Porto para trazer coisas de casa para Lisboa, pediu-me se podíamos passar no Porto, aquiesci, fomos, e numa avenida qualquer ela mostrou-me a cor das folhas das árvores e disse olha que bonito estas cores de Outono e pela minha expressão ela viu que eu não via e disse-me tu não ligas muito a isto pois não e eu devo ter dito que não, lembro-me de ter dito que não, e desde esse tempo até agora passou um tempo imenso, parece uma eternidade, e a luz de Outono, as cores de Outono, vejo-as, e à janela, ontem, ao fim da tarde, disse em voz alta, olha-me esta luz, e repeti, olha-me esta luz, uma luz que não sei o que tem, é hipnótica, tem uma beleza muito particular, da minha janela vê-se uma colina e alguns prédios pela colina acima, e a luz reflecte-se nas janelas, às vezes vem directa do sol a mim e entra-me adentro pelo quarto e não sei se por mim

que luz vejo hoje é uma luz diferente que a luz pode ser que seja igual que os olhos pode ser que sejam diferentes

Pedro

Eu Mesma! disse...

Eu confesso que já tinha saudades...
dos primeiros dias de outono... aquele friozinho no pé despido... o usar um robe em casa e uns chinelos...

adoro o outono...

:)

Daniel Santos disse...

Está a chegar uma época fantástica, gosto imenso do Outono/Inverno.

antonio ganhão disse...

E se o nosso descontentamento fosse igualmente podado?

Bartolomeu disse...

Dizem que este ano, o vinho será bom, mas a colheita escassa... o bago secou um pouco.
Entra o Outono numa sequência inalterável de estações, mas já descaracterizado em relação a outros tempos. Contudo, os campos apresentam-se num tom castanho-cinza de terra sêca. Pontua ainda o verde-exangue dos vinhedos, que brevemente se apresentará castanho-dourado, castanho-avermelhado e por fim castanho-castanho.
Depois virá a poda, ficaram os galhos nús apontando o céu como dedos postos em prece, rogando ao altíssimo que na Primavera se cubram de novos rebentos verdes.
Dizem que na Primavera se renova a vida... mas, será que a vida não se encontra em perfeita e permanente renovação?!
;)

Patrícia Grade disse...

Confesso não apreciar devidamente o Outono, talvez por temer tanto o Inverno...
Ainda assim, as memórias dos Outonos da minha vida são reluzentes de felicidade. A chegada dos dias mornos pautava-se pelas idas às feiras que pululavam por toda a parte, locais onde a mãe ia comprar as botas para o Inverno, os casacos que me afastavam das chuvas e frio nas idas para a escola. As últimas festas gargalhavam por entre os fogos de artíficio e assim se iam despedindo do Verão...
Confesso que o Outono vai tendo outras cores agora.
Acordo bem cedinho para um momento solitário de contemplação do nascer do sol, antes mesmo que comece a cacofonia da rotineira vida diária... Contemplo o sol que nasce e reparo que vem mais molengão, mais baixo, menos luminoso e sorrio enquanto ele me sorri de volta...
Sim, acho que gosto deste Outono que vai nascendo, enquanto a minha casa se deixa esfriar como a tua e as árvores que foram morrendo no Verão, recomeçam as suas vidas...

Obrigada amiga, por me fazeres olhar a estação que nasce com mais tolerância...

António de Almeida disse...

Começa hoje o Outono. Gosto da estação, porque também não morro de amores pelo calor do Verão.

Dias as Cores disse...

...será que a bouganvília queria ir JÁ hibernar, ou tê-la-ás mandado prá cama à força??

Será que não quereria pavonear os seus ramos um pouco mais ao doce Sol de Outono?

Unknown disse...

Pois que o Outono só começou hoje oficialmente. Ontem, no entanto, a vir de Mortágua, vi os primeiros traços de Outono nas cores que começam a encher as laterais das estradas que percorria.

Este Outono, que se enche de cores tão belas, pode tantas vezes trazer pesos inusitados na pressão do recomeço das rotinas das escolas e dos filhos.

Já ultrapassei um pouco tudo isso mas por vezes o mundo pode efectivamente ter esse peso inusitado trazido pelo Outono

Anónimo disse...

Na cidade o Outono é triste. Deprime-me. Gosto das cores acobreadas que o Outono tem no Douro, ou em Trás-os-Montes, mas mesmo assim sinto-me invadir por uma enorme tristeza. Para mim é o anúncio do fim de um ciclo, que se completa com o Inverno. Fico sempre na ansiedade do ciclo que se inicia na Primavera.

Quint disse...

Temo o pior pela bougainvília!
Quanto às uvas, estão de eleição e o vinho deste ano recomenda-se.
E já se fazem umas lagaradas pelo Douro acima.

mdsol disse...

Muito bem Blondinha... Palavras de cores muito bonitas.
Mas, "Cheiro a engaço?" Não haverá por aí uma confusãozinha? Era mesmo engaço que querias usar? Ou pretendias usar uma palavra com uma sonoridade parecida?
Hummmm
Beijinhos outonais