O ar está morno de veludo. Nem uma brisa e cheira a cedros molhados e caruma no chão. É a calmia depois da tempestade. Passou por aqui e vejo-lhe o rasto na estrada onde ainda correm leitos barrentos de gravilha e lama. Dizem-me que foi uma coisa monstra. Imagino. Há um piquete da electricidade à porta do hotel e outro com homens de mangueiras que sugam excessos de água. Sim, imagino.
Mas o ar está tão bom no fim de tarde. A temperatura amena que me envolve e aquele cheiro intenso dos cedros. Lembro-me do Egeu e da Grécia mas estou muito longe. Apetece-me andar, vaguear por ali a absorver aquilo que me entra pelos sentidos. É um bom fim de tarde, suave, depois da viagem. E, na solidão, vivo-o melhor, mais consciente, porque na solidão a percepção afina-se, aguça-se sem a distracção do outro.
Regressarei a casa, àquela casa grande e fresca no calor do Verão que finalmente chega, à casa vazia que me espera e por cujas portas cada vez mais me apetece entrar e ficar. Cheira a ameixas. Um cheiro plácido na quietude da casa. Um cheiro encorpado. Sobre a mesa da cozinha uma travessa de figos e, sim, ameixas. Parece-me uma natureza morta num quadro da Josefa d'Óbidos que ganha vida ali sobre a mesa. Claro, a Paula que me deixa sempre surpresas à minha espera. Surpresas que me atenuam a solidão por estes dias e que me enchem a casa grande, que ma habitam e que me constróem esta sensação boa do bom que é regressar.
7 comentários:
Acompanhamo-nos de tempestades e por vezes sabe bem uma acalmia em fim de tarde... Belo texto.
ao figo, denta-o
e chama-lhe um figo
:)
こんにちは!日本料理は好きですか?
Adorei as tuas palavras....
Felizes tardes essas, de acalmia...
Uma excelente semana...
Mas as ameixas não podem ser assim apertadas contra o vidro! Ficam "tocadas" e estragam-se.
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