O que viver no campo tem de grandioso é a proximidade dos elementos de uma natureza não domada.
Adoro trovoadas. Sempre adorei. Lembram-me a Mãe.
Desligar o quadro.
Metermo-nos na cama as três (eu, a mana, a Mãe) tapadas com um cobertor.
Ficarmos ali enquanto durasse a tempestade.
- Como é que se faz, Meninas?
- Sim Mãe, - dizíamos em uníssono de vozes que já disseram aquilo milhares de vezes - vemos o relâmpago, contamos os segundos até ao trovão, multiplicamos por 340 e depois achamos os quilómetros a que está a tempestade.
- Muito bem. E o que é que se deve fazer?
- Afastarmo-nos de água e outros condutores, evitar árvores e sermos os elementos mais altos num descampado.
- Muito bem. Vá, vamos contar este!
- 1... 2... 3...
Depois ficávamos ali aninhadas e quentinhas. E a Mãe contava histórias de trovoadas e tempestades. Contávamos segundos e eu desejava que a tempestade nunca mais passasse.
Hoje é automático: vejo um relâmpago e faço contas. Não me meto debaixo de cobertores. Vou para a janela ou para a rua. Desejo ir ao Kansas em época de tornados e já me meti num simulador deles. Também já persegui trovoadas no ânimo inebriante da menina das trancinhas louras. Mas no fundo, no fundo, dias assim são dias da Mãe...
6 comentários:
Como sempre digo, tudo tem o seu encanto, até uma tempestade, há é que procurar descobrir o lado bom nas coisas...
Tenho um aquário e por isso não posso desligar a energia eléctrica.
Enfiar debaixo dos cobertores? Sempre era melhor do que estar no emprego. Os dias começam a repetir-se nas nossas memórias.
Também gosto de trovoadas, mas sobre o mar. Proporcionam espectáculos fantásticos.
Estamos melhor entregues, enquanto o que vier do céu não seja domado...
Aos anos que já não ouvia essas contas... que nunca entendi se eram ou não verdadeiras...
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