11 de fevereiro de 2011

Eça, Portugal, a Grécia

Interrompo a saga dos limões porque li esta em As Farpas dos bons Eça e Ramalho. Data: Dezembro de 1871.

"Nós estamos num estado comparável, correlativo à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, masmo abaixamento dos caracteres, mesma ladroagem política, mesma agiotagem, mesma decadência de espírito, mesma administração grotesca de desleixo e de confusão" (p. 312 da edição da Principia de 2004).

Sou tentada a concordar com Hegel que a única coisa que aprendemos com a História é que não aprendemos nada com a História.

3 comentários:

Dias as Cores disse...

E como é que se desencrava esta farpa... a do "não aprender nada com a História"?

António de Almeida disse...

DOIS PARTIDOS SEM IDEIAS, SEM PLANOS, SEM CONVICÇÕES, INCAPAZES


"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas. Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

(Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896).

George Sand disse...

Leia também as últimas farpas do Ramalho. Vai-se surprender.