31 de maio de 2011

30 de maio de 2011

Este meu campo



O que eu acho giro é que foi preciso mudar de vida para começar a descobrir o sítio onde moro. Acho que durante muitos anos os meus horizontes deste campo se confinaram aos muros do jardim e, algures num passado que não sei quando, havia olhos que se perdiam nos terrenos, esses mesmos que agora me levam a percursos de agricultura. Mas esses olhos deixaram de ver, perdidos noutras viagens e na cidade grande.
Agora, descubro que vivo no meio de verdes imensos, por entre montes e vales de casarios dispersos, moinhos antigos, arvoredos e caminhos de terra. E, por detrás das lentes escuras de óculos citadinos, observo, como bebendo, este campo que me envolve de cheiro a mato e vento nos cabelos. Descobrir assim é tão bom de liberdade...

28 de maio de 2011

Este já faz 20 anos


Fez esta semana 20 anos que estreou: Thelma and Louise. A Geena Davies novinha e a Susan Sarandon sempre com aquele sotaque sulista encantador que nunca haveria de perder. Claro, um ainda quase anónimo Brad Pitt com a fama a espreitar ao virar da esquina e a vida de duas mulheres que eu via na minha inexperiência sem saber que um dia iria viver "coisas". Que ia percorrer estradas poeirentas e sós nos Estados Unidos ou que ia viver um não-casamento que me atrofiria a vida até eu sair e recomeçar a viver ainda que o recomeço fosse viver a primeira vez.
20 anos de entretantos.

27 de maio de 2011

Votar no Mickey

Recebi, como acho que toda a gente recebeu, a cartinha do MAI/DGAI com as informações de como proceder para saber onde votar e qual o número de eleitor. Li na diagonal, como leio todas as cartinhas deste tipo. Ia hoje para enviar o tal SMS para saber do meu número quando leio melhor a cartinha que diz, a frases tantas, que se "ainda" tivermos o antigo cartão de eleitor não precisamos fazer nada.

Pergunta idiota:
Então porque é que andaram a alardear que o cartão de cidadão substituía o de eleitor?
Outra pergunta perfeitamente idiota:
Quanto é que se gastou em cartinhas para resolver a "insolução" do cartão de cidadão/eleitor?

No resto, triste campanha esta em que não há ideias, só ruído de comadres e ideias peregrinas de rever leis já referendadas, como se essas fossem realmente importantes numa época como esta em que nada nos assegura que não vamos ter uma tragédia grega à porta. Onde está a Esquerda? Onde anda a Direita? O que é o Centro? Mickey à Presidência!

25 de maio de 2011

Um PhD e a Agricultura

Houve um tempo em que os terrenos que me ficaram porque a Mãe morreu tinham vinhas e pomares e searas. A Mãe morreu. A agricultura morreu. Os terrenos estão lá. Entrei neles pela primeira vez o ano passado. Eu. Dona. Herdeira. Estrangeira ali em chão que não me reconhece. Falta-me decidir, antes do final do ano agrícola (que acaba em Setembro e eu não sabia mas ando a aprender), que projecto ali vou fazer. Falo com o engenheiro agrónomo que me vai ajudar e o que ouço é devastador. A agricultura em Portugal é um cadáver.
- Oliveiras! - Sugiro entusiasmada, pensando em hectares de árvores verde prateado e azeite liso aveludado. Andei a ler sobre oliveiras. Sei as espécies. Sei as diferentes variantes da cultura e sei quantas árvores um hectare sustenta.
- Oliveiras?! Era bom. Mas os espanhóis compraram o Alentejo e é impossível competir com eles. - Diz-me na seriedade de quem sabe do que fala.
- Vinha? - Replico lembrando-me das nossas vinhas de quando eu era pequena e comia grossos bagos de Dona Maria e produzíamos castas híbridas vinícolas. - Os terrenos já tiveram vinha, podíamos lá fazer um vinhedo outra vez.
- O investimento é monstruoso e não compensa produzir para a Adega Cooperativa. Aliás, já nem sequer temos muitos sócios e, como vê, as vinhas estão todas por amanhar.
- Searas?
- Ó Dona Blonde, agora vem tudo da América do Sul. Um hectare na Amazónia compra-se por nada. Aqui os custos de produção cerealífera subiram 300% e o preço de venda de trigo desceu de tal ordem que o seu Pai nos anos 80 vendia o trigo que produzia a 30 escudos o quilo e se agora o vendesse a 4 cêntimos teria sorte. Não vê que até a EPAC fechou? Quem é que receberia os cereais?
Fico parva pelo tanto que as coisas mudaram nestes anos em que virei as costas ao passado. Estamos a pensar num plano para transição para agricultura biológica. Talvez cereais. Entretanto descobri umas coisas sobre pastagens biológicas e ainda lhe vou sugerir isso. A ver o que ele diz. Agora que quero agarrar os terrenos, a determinação continua. Mas continuo na perplexidade de ver o ponto a que as coisas chegaram. Ninguém fala em políticas agrícolas neste país. Os terrenos viraram matos. Há um ordenamento do território que cria reservas agrícolas nacionais, sítios de silvas e abandonos. Como é que poderíamos não estar em crise? O CDS fala na Lavoura e as Esquerdas proclamam o regresso à agricultura. Mas só oiço intenções. Ninguém assume rumos, estratégias ou políticas. Ninguém sabe como ressuscitar a agricultura.
Eu continuo a pensar, a ler e a pesquisar. Há-de-me surgir uma ideia para resgatar aqueles terrenos e encontrar-me em paz com passados. Pena tenho é que para isso tenha de lutar contra um país que desprezou a terra de onde vem e o pó para onde vai... 

23 de maio de 2011

Viver em Tamanho 34

Size 6. XS. Não ocupo muito espaço pelos vistos. Mas acho a Vida uma coisa XXL em tudo. Fins-de-semana com azuis de Tejo e céu em alegrias súbitas e depois as Segundas no arremesso incomensurável dos stresses de um país um ruptura profunda onde tudo perdeu o Norte. Oitos e oitentas. Céus e infernos. Por vezes esqueço-me de que me estou a divorciar há três anos nesta justiça de lentidões, atropelos e desumanidades. Outras forçam-me a lembrar dessa existência paralela de processos e burocracias, sessões e audiências, advogados, juízes, diligências e papéis, únicas coisas de sobraram de um não-casamento. Tem dias em que a liberdade é suprema. Tem outros em que a espada de Dâmocles paira aqui tão pesada e visível em movimento de pêndulo. Sim, a vida vem em tamanho XXL e, por vezes, fica-me aqui a boiar num corpo 34 enquanto eu olho para o espelho com as mangas descaídas e as baínhas por fazer.

21 de maio de 2011

Um instante

Pára ao meu lado num semáforo. Conduz uma carrinha empoeirada que já viu muito sol e muitos anos. Cabelo longo frisado. Castanho banal. Óculos escuros sem estilo, sem moda. Deve ser mais nova que eu. Os braços descaem na flacidez dos músculos. Enquanto apoia a cabeça sobre o ombro esquerdo para ver se o sinal cai imagino-lhe a vida. É só um instante. A brevidade dos segundos desenrola-me um filme. Vida de compromissos algures num subúrbio de apartamentos e muita gente. Horários de escolas e creches. Jantar para fazer. O emprego. O dinheiro à justa.
Olho para mim na antítese. Ali, lado-a-lado num semáforo em Benfica, separa-nos um abismo. Prefiro a margem em que estou mil vezes. Se eu sair fora de mim também vejo um filme, tão sedutor e diferente do daquela mulher que arranca na pressa ao verde do sinal. Os olhos que já viram mundo por detrás de óculos de revista. A Casa relvada e a vida desimpedida. Os braços rijos. E, no entanto, não sei onde pára essa coisa esquiva chamada felicidade...

19 de maio de 2011

Os Extremos tocam-se

E é uma verdade. Ouvir, por estes dias, o PCP e o BE ou o PNR é a mesma coisa. Na extrema Esquerda não assinariam o acordo da troika. Na extrema Direita não assinariam a troika. Na extrema Esquerda a Europa é uma falácia. Na extrema Direita a Europa é uma falácia. E assim vamos nós por entre a algaraviada política deste país, onde quem quer votar se vê aflito perante as hipóteses de escolha. Valha-nos...

18 de maio de 2011

Convite



Há um país que não conhecemos. Realidades outras e gente, tanta, que desconhecemos mesmo que viva ao nosso lado. Os sonhos, esses "des-sonham-se" no quotidiano para se voltarem a sonhar nessa realidade que sempre queremos mudar. Acabado de editar, Até Sempre Sr. Doutor é o segundo romance do meu amigo Hélder Trindade.

 É com muito gosto que vos convido para a sessão de lançamento, dia 27 de Maio, 18.30, na livraria do King, Les Enfants Terribles, ao pé da Av. de Roma.

17 de maio de 2011

E o Top Gun tem 25 anos


Yikes! 25 anos?! Como é que já passaram 25 anos?! E eu que nem nunca achei piada ao Tom Cruise (o mesmo não se dizia do Iceman do Val Kilmer) e ainda menos gostava do "Take my breath away" dos Berlin, ugh, how lame! Mas 25 anos?! Caramba!

16 de maio de 2011

O que se aprende em voos para Bruxelas

Os políticos no activo viajam em primeira. Os "desactivados" viajam em segunda. Posso estar enganada mas é isso que a malta vê.

15 de maio de 2011

De novo em casa

Está noite. Estaciono no quintal, em frente à garagem. Dou-me uns longos momentos antes de sair da carrinha. A temperatura amena transporta-me aqui em Verão e eu venho do frio, o fresco que me arrepia apesar do sol que espreita de vez em quando. Aqui a temperatura é de veludo. Oiço o coaxar das rãs no rio. Estou de regresso ao meu mundo.
Entro em casa e deponho as bagagens em desarranjo com pressa de ir passar revista à casa. As flores frescas que a Paula cá deixou em abundantes ramos. O pão em cima da mesa da cozinha com medo que eu chegasse tarde e com fome. Ovos. No tampo de vidro da mesa noto uma mancha indistinta. Mel. Um frasco sem tampa tombou. Estou cansada para ir limpar a viscosidade. Tem de ser.
Subo ao primeiro andar. Ligo a luz da casa-de-banho. Um clarão e escuridão a seguir. Sim, cheguei à domesticidade do meu mundo rodeado de noite com rãs coaxantes e gente que cuida de mim e a Casa, esta Casa grande que se vai preenchendo de mim cada vez mais...

11 de maio de 2011

Conversa de taxista a caminho do aeroporto

- A culpa disto tudo é dos gajos da AMI e da Perestroika, é o que é!

Isto às 6.30 da manhã! Do melhor que nem lembra aos Gato Fedorento.

10 de maio de 2011

Stress a mais

muito mais... Arre!
Mas no fim, a sensação de que ainda vai valendo a pena pelos que nos acompanham no percurso. Bless 'em!

8 de maio de 2011

Sonhos Blonde de cenoura e coco

Isto uma Blonde aborrecida num Domingo aborrecido dá-lhe para a suma invenção culinária. Apeteceu-me sonhos vá lá o diabo saber porquê. E não só me apeteceu como me deu para fazê-los, e nessa altura até o diabo desarvorou a sete pés porque esta Blonde nunca fez fritos e só vagamente sabia que os sonhos devem ser deep fried, coisa que nem em Português uma pessoa Blonde sabe dizer. Coisas...
Cá vai a invenção do dia.

Ingredientes:
1/2 kg de cenouras (mais coisa menos coisa)
côco ralado (a olho consoante o gosto)
2 ovos
farinha (o suficiente para fazer uma consistência semi-rala com os restantes ingredientes)
açucar (a gosto mais um pouco para polvilhar)
raspa de 1 limão
1 cálice de Vinho do Porto
fermento em pó q.b.
canela para polvilhar

Cozer as cenouras muito bem e depois de cozidas esmagá-las com o passe-vite (eu esmaguei com um garfo). Juntar ao polme de cenoura cozida, o açucar e o côco e envolver. Juntar as duas gemas de ovos, o Vinho do Porto e a raspa de limão e mexer outra vez. Aos poucos envolver a farinha com o fermento e intercalar com colheres da água de cozer as cenouras. Bater as claras em castelo e envolver suavemente no polme.
Fritar colheradas de massa numa sertã funda com óleo (operação complexa e delicada; a primeira leva que fiz viu-se negra e esturricou-se e eu nunca em dias da vida pensei que fritar fosse tão difícil).
Depois de fritos e escorridos sobre papel absorvente, polvilhar com açucar e canela (e abrir bem as janelas da cozinha porque o cheiro a fritos põe qualquer Blonde doente).
Contra todas as expectativas ficaram um SONHO. Deliciosos. Saborosos. Apetitosos e eu tão orgulhosa da proeza! Bom apetite!

Com os planos todos furados

aqui estou sem saber bem o que fazer deste Domingo, frio ainda por cima! Ó vidinha!

6 de maio de 2011

Há dias assim

Ando com uma agenda tão impossível de cheia que só desejo que chegue Domingo da semana que vem. Até lá ainda há aulas, bagagens e aeroportos, problemas, documentos, powerpoints, ressaca de emoções dos últimos dias (e se ontem foi pródigo!), logísticas domésticas... Vida!!!

4 de maio de 2011

Eu até tenho vergonha

Ao ler as notícias das medidas propostas pela Troika a este país desgovernado não deixo de pensar no incompetentes que somos que precisamos de quem nos venha dizer o que fazer. E, sobretudo, penso na falta de bom senso que tem caracterizado a nossa administração com manias de rico num país cronicamente empobrecido.

3 de maio de 2011

What's the catch?

Os portugueses acho que dizem que quando a esmola é muita o santo desconfia. Os ingleses franzem o sobrolho e perguntam "what's the catch?". Ainda não sei se é caso para alívio se para desconfiança...
Veremos as cenas tristes dos próximos capítulos à medida que as "medidas" (pardon my French!) forem sendo anunciadas.

2 de maio de 2011

O Bin Laden morto?!

Mas a foto do meliante morto é uma montagem photoshopada? E o homem foi enterrado no mar? Hmm... I smell a rat...
Nestes dez anos construí a ideia de que o Osama Bin Laden não existe, é um produto mental de Americanos e de uma facção de um Islão fundamentalista e cerrado de ideias. Agora dizem-me, assim, de supetão, que ele foi morto e querem que eu acredite no imediato, quando não há provas cabais? Quase me apetece sugerir que, tal Aquiles a passear o corpo de Heitor à frente das muralhas de Tróia, se revelem os despojos do Anti-Cristo dos nossos dias. Assim como assim, os nossos olhos e mentes já estão de tal modo habituados à violência e ao horripilante que não sei onde estaria a estranheza da morbidez. (Só tenho pena desta nossa habituação petrificada à banalização do Mal que o normaliza...).
Não sei se é um very happy day for mankind se um very sad day. Agora que é uma história sem happy ending, ai isso definitivamente.

1 de maio de 2011

1º Dia de Mãe

Passaram doze anos sem que houvesse Mãe nesta famíla. Na devastação e orfandade, o dia de hoje sempre me foi penoso, um dia em que recordava a mutilação de já não ter Mãe, de ir a um cemitério e fingir que aquilo era uma rotina de levar flores porque sim, porque o dia exigia, como se neste dia eu sentisse a obrigação de ter mais saudades do que nos outros. E sempre a dor de ver as mães dos outros e, mais doloroso, de ver os outros com mães. Sim dói. Sim, dá a tristeza da injustiça e a sensação de abandono. E sim, acho que dá ciúmes.
Este ano temos uma mãe nova. Como é que eu hei-de explicar o que sinto por ver a Mana mãe? A Mana que eu fui conhecer à maternidade, que cresceu no meu universo e que sempre e ainda eu vejo como a irmã que me fez companhia no percurso mas que é pequenina no sentido em que, sendo eu a mais velha, nutro por ela o sentimento da responsabilidade que faz dela a minha prioridade de vida? E a Mana agora é mãe.
Olho para ela com o bebé Manel e sinto-me na terceira pessoa. Fico na ombreira e não entro num mundo que não me pertence e cuja linguagem não possuo. Acho admirável. Procuro nela resquícios da Mãe. Mas não é a Mãe que encontro, é a Mana mãe e vagamente eu vejo a nossa Mãe. Traços físicos; muitos; cada vez mais, e cada vez mais ela é a herdeira dos genes da Mãe. Algumas expressões características que só a Mãe usava. No resto, sinto apenas que a Mãe lhe flui como se de uma espiritualidade se tratasse através da maquinalidade oleada dos gestos, dos olhares concentrados num objectivo impronunciável porque instintivo.
Sim, é admirável. É ver a Mana a construir vida para além da vida que tínhamos. Seguir em frente e enriquecer o caminho dela e, colateralmente, o nosso. É olhar para ela e sentir o coração insuflar-se como se ela fosse minha filha nos filhos que eu não tenho. Vejo-a à distância. É a Mana do meu Nós de irmãs, mas é Ela no mundo novo que se lhe abre, no mundo futuro, enquanto o nosso vem de outras temporalidades.
Acho que talvez seja isso que nós pais e irmãos queremos para os nossos filhos e irmãos: que eles um dia sejam Eles e se movam para um universo no qual apenas a ombreira é o espaço em que conseguimos entrar. E daí observamos com sorrisos entre o surpreso e o embevecido que o percurso valeu a pena.
Feliz Dia da Mãe, Mana!