Ando a descobrir a pessoa que está dentro do meu sobrinho de ano e meio. Nestes últimos dias tenho passado mais tempo com ele (nem sempre exactamente sozinha porque a minha irmã se encarregou de criar uma cadeia de supervisão infalível nestes dias em que tem estado fora: eu supervisiono o bebé Manel, a empregada supervisiona-nos a ambos e, por sua vez eu a ela, e o pai Manel supervisiona-nos a todos e todos o supervisionamos a ele, enfim, a minha irmã não deixou nada ao acaso: é mãe). É engraçado ir buscar o Manel à ama e descobrir o mapa lisboeta de pequeno bairro em que a Mana se move. E mais engraçado é o tempo que eu passo com um bebé chilreante que começa a fazer associações lógicas e a tecer cadeias de consequência. Acho que nunca pensei que começamos de um zero absoluto em termos de aprendizagens e nunca imaginei que assistir a isto se me revelasse tão enriquecedor.
Ontem, à revelia da Mana, tive o impulso de dar banho ao Manel. Nunca dei banho a um bebé: os meus papéis são sempre na assistência. Confesso que pensei que estaria mais nervosa do que o que estive. A empregada na cozinha nem se apercebeu da minha audácia. E acho que o Manel não esperava a Tia ousar dar-lhe banho.
Eu sei que isto é pueril mas foi das coisas mais surpreendentes que fiz na vida. Olhar aquele bebé que virava a cara para o jacto do chuveiro e se lambia para apanhar a água enquanto se revirava para chapinhar e buscar os brinquedos na banheira foi maravilhoso. Claro que a Tia acabou um bocado molhada no seu vestido fashionista e cunhas de meio metro de altura mas isso fez parte da diversão. Ali, ajoelhada no chão, ao nível de um bebé percebi o quanto gosto dele. Não que ainda não tivesse percebido, mas foi um perceber consciente; um perceber que tudo na vida mudou desde que ele existe; um perceber que amo a mãe dele mais do que tudo na vida e que ele, sendo ela em parte, me dói na dor boa de amar porque o amar a sério sente-se no físico do coração que aperta e no medo que a dor boa se transmute em dor de dor.
Manel, vamos ser tão amigos. A Tia gosta tanto, mas tanto, de ti. Não percebo bem o que dizes, nem sei no que pensas enquanto experimentas e descobres e falas contigo e connosco. Um dia a Tia vai perceber o que essas palavras chilreantes querem dizer. Até lá, e sempre, és o que somos de melhor. És-nos e nós somos-te.
2 comentários:
Que declaração linda de amor, Blonde. Anseio um dia sentir isso por um ser pequenino :) Uma amiga uma vez disse-me que as pessoas têm filhos para voltar a descobrir o mundo sob a perspetiva deles. E eu acho que essa é a explicação mais convincente que já ouvi sobre o mistério que é a vontade de procrear.
Construíste um post cheio de ternura que me tocou muito.
Beijinhos.
Enviar um comentário