9 de fevereiro de 2013

Lincoln

Confesso que fui ver o "Lincoln" mais pelo Daniel Day-Lewis do que pela personagem histórica com a qual nunca simpatizei grandemente. Certo que libertou os escravos e era um paladino dos direitos humanos. Mas a sua melancolia crónica, a rigidez de pensamento e o ver as coisas unicamente a preto e branco (no que a ausência de cor torna o filme muito compatível com o homem e a sua dimensão de pessoa real) nunca me fizeram Lincoln particularmente agradável. Vejo-o um pouco como Gladstone, o Primeiro Ministro britânico que passou a vida a defender o Home Rule irlandês, e que não tinha ponta de agreabilidade face, por exemplo, ao seu eterno rival Disraeli, o imperialista feroz, que o Eça de Queirós abominava, e que eu acho um homem muito mais simpático de carácter, um homem que escrevia romances de cordel para se distrair da política e se vestia com cores e gostava de viver.
Penso, porém, que este "Lincoln" nem pelo Day-Lewis se escapa. Morno até dizer chega. Faltou-lhe urgência. Ou então foi tão bom, tão magistral que eu, que não simpatizava com o Lincoln real, saí sem simpatizar com o Lincoln dramatizado. Também há uma outra versão que é quando se trata de gigantes, de pessoas que foram ou são maiores do que a humanidade em que incarnam, mais vale deixá-las em paz, vivas apenas no que pensamos, sabemos ou herdámos delas. 

2 comentários:

Ältere Leute disse...

Apesar de esperar muito mais - do filme e do actor - gostei. E, quando se fala muito de alguém ou de alguma coisa, gosto de "dar fé", como se diz na minha terra.
Já agora, também dentro do tema, veja o "Django Libertado". E pense que as cenas de tiros e sangue são o modo de Tarantino dizer as coisas.

Rafeiro Perfumado disse...

Elá, é o que vou ver amanhã...