Encontrei este título no Publico e achei giríssimo (há muito que nenhum título da imprensa me apelava assim). Chama-se "Os anos 80 estão de regresso aos frigoríficos dos portugueses" e baseia-se nas conclusões de um estudo para aferir dos hábitos de consumo de bens essenciais pelos portugueses. Pretendeu-se mostrar como, e em que segmentos, a crise está a afectar o consumo dos portugueses ao nível dos bens ditos de primeira necessidade. Os resultados mostram a emergência de um "novo normal", um consumidor mais moderado, que não compra tantos refrigerantes, sobremesas lácteas ou queijos fatiados. Um consumidor parecido ao dos anos 80 que começa a levar marmita para o emprego e que, no caso das classes média baixa e abaixo compra nas lojas discount como o Lidl e prefere marcas brancas.
Pois eu faço a minha leitura e digo que nunca saí dos anos 80 e que, apesar do meu escalão sócioeconómico, tenho um consumo de classe média baixa. Há anos e anos que levo lancheira para a faculdade, não por razões económicas mas por razões de saúde e de rentabilização do meu tempo. Não como sal, não como fritos, não como gorduras e alimentos processados e preciso do meu tempo bem organizado e sem ser desperdiçado em restaurantes ou filas de cantina universitária.
Também não compro, e nunca comprei, os alimentos desnecessários que vejo as pessoas à minha frente nas caixas de supermercados comprar: pães com chocolate, todos os tipos de refrigerantes e bolachas, comidas prontas e pré-feitas, leites enriquecidos com isto e aquilo, enfim, o que a minha Mãe diria "ideias ao dinheiro". Talvez que a crise tenha o mérito de nos reindicar o caminho dos bons hábitos alimentares. E também sempre me lembro de comprar no Lidl, não só porque já o fazia na Alemanha, mas porque não vejo onde esteja a diferença entre produtos de marca branca e produtos líderes de mercado se todos são feitos nos mesmos sítios.
Quando a Isabel Jonet disse que andámos a viver acima das nossas possibilidades, toda a gente se levantou em armas que a senhora era paternalista, retrógrada, moralista e outros etcs. Talvez que a escolha de palavras não tenha sido a melhor. Eu acho, no entanto, que nos tempos da nossa falsa e ilusória riqueza, fomos desvairados nos nossos gastos, fomos um povo saído da pobreza e da ditadura que se deixou ofuscar pelo consumo fácil. Tenho ainda uma outra teoria para o que terá acontecido aos portugueses mas essa deixo-a comigo porque implica a minha educação alemã sob o espectro da Guerra e far-me-ia bem mais mal interpretada do que a Jonet.
A notícia do Público aqui.
3 comentários:
Eu não critico as escolhas (alimentícias ou outras) dos outros, cada um sabe de si... Mas lá que me faz confusão, faz, quando me dizem que só compram papel higiénico xpto - o do LIDL é 5 estrelas - detergente não-sei-quê, enfim. Eu sou esquisita com outras coisas: esparguete só de certas marcas, os normais são mais finos e irritam-me, não compro iogurtes de marca branca que têm mais 50% de açúcar do que os que pretendem imitar, enfim. Nem tudo branco nem tudo às cores.
Hundertprozentig einverstanden !
Os alemães, como maiores contribuíntes líquidos da então CEE, atiraram dinheiro às pazadas para Portugal. Dado o número de viaturas alemãs que passaram a circular nas nossas estradas, para não falar doutras coisas que se instalaram nas nossas casas e fábricas, creio que todo o dinheiro que nos "deram" voltou à base com uma boa margem. E agora pagamos os juros. E levamos uma lição de moral - Timeo Germanos et dona ferentes. Porque não pararam quando as nossas finanças já estavam um caco?
O post é infeliz e o link é para um artigo estúpido. Os hábitos não estão a mudar por melhor educação nutricional, mas por asfixia financeira.
Lidl e marmita? Por opção, certamente. Assim? Os sulistas preguiçosos e os do norte virtuosos, finalmente estamos a aprender a ter maneiras, nhá nhá nhá.
Não sou seu amigo, nem a conheço. Passo por este blog de quando em vez para desempoeirar o espírito. Não esperava isto.
PS
Fui uma vez ao Lidl e vi uns iogurtes muito giros que não precisavam de frio. Depois de ler a composição fiquei a saber que eram sobretudo gelatina.
Disclaimer: a minha cozinha é Míele, o meu carro um Mercedes, as torneiras Grohe, as canetas Rotring, o relógio Lange, e haverá mais nesta lista. O que os alemães fazem, fazem com extrema competência. Mesmo o mal.
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