7 de fevereiro de 2013

Os frigoríficos regressaram aos anos 80

Encontrei este título no Publico e achei giríssimo (há muito que nenhum título da imprensa me apelava assim). Chama-se "Os anos 80 estão de regresso aos frigoríficos dos portugueses" e baseia-se nas conclusões de um estudo para aferir dos hábitos de consumo de bens essenciais pelos portugueses. Pretendeu-se mostrar como, e em que segmentos, a crise está a afectar o consumo dos portugueses ao nível dos bens ditos de primeira necessidade. Os resultados mostram a emergência de um "novo normal", um consumidor mais moderado, que não compra tantos refrigerantes, sobremesas lácteas ou queijos fatiados. Um consumidor parecido ao dos anos 80 que começa a levar marmita para o emprego e que, no caso das classes média baixa e abaixo compra nas lojas discount como o Lidl e prefere marcas brancas.
Pois eu faço a minha leitura e digo que nunca saí dos anos 80 e que, apesar do meu escalão sócioeconómico, tenho um consumo de classe média baixa. Há anos e anos que levo lancheira para a faculdade, não por razões económicas mas por razões de saúde e de rentabilização do meu tempo. Não como sal, não como fritos, não como gorduras e alimentos processados e preciso do meu tempo bem organizado e sem ser desperdiçado em restaurantes ou filas de cantina universitária.
Também não compro, e nunca comprei, os alimentos desnecessários que vejo as pessoas à minha frente nas caixas de supermercados comprar: pães com chocolate, todos os tipos de refrigerantes e bolachas, comidas prontas e pré-feitas, leites enriquecidos com isto e aquilo, enfim, o que a minha Mãe diria "ideias ao dinheiro". Talvez que a crise tenha o mérito de nos reindicar o caminho dos bons hábitos alimentares. E também sempre me lembro de comprar no Lidl, não só porque já o fazia na Alemanha, mas porque não vejo onde esteja a diferença entre produtos de marca branca e produtos líderes de mercado se todos são feitos nos mesmos sítios.
Quando a Isabel Jonet disse que andámos a viver acima das nossas possibilidades, toda a gente se levantou em armas que a senhora era paternalista, retrógrada, moralista e outros etcs. Talvez que a escolha de palavras não tenha sido a melhor. Eu acho, no entanto, que nos tempos da nossa falsa e ilusória riqueza, fomos desvairados nos nossos gastos, fomos um povo saído da pobreza e da ditadura que se deixou ofuscar pelo consumo fácil. Tenho ainda uma outra teoria para o que terá acontecido aos portugueses mas essa deixo-a comigo porque implica a minha educação alemã sob o espectro da Guerra e far-me-ia bem mais mal interpretada do que a Jonet.
A notícia do Público aqui

3 comentários:

Goldfish disse...

Eu não critico as escolhas (alimentícias ou outras) dos outros, cada um sabe de si... Mas lá que me faz confusão, faz, quando me dizem que só compram papel higiénico xpto - o do LIDL é 5 estrelas - detergente não-sei-quê, enfim. Eu sou esquisita com outras coisas: esparguete só de certas marcas, os normais são mais finos e irritam-me, não compro iogurtes de marca branca que têm mais 50% de açúcar do que os que pretendem imitar, enfim. Nem tudo branco nem tudo às cores.

Ältere Leute disse...

Hundertprozentig einverstanden !

A.B. disse...

Os alemães, como maiores contribuíntes líquidos da então CEE, atiraram dinheiro às pazadas para Portugal. Dado o número de viaturas alemãs que passaram a circular nas nossas estradas, para não falar doutras coisas que se instalaram nas nossas casas e fábricas, creio que todo o dinheiro que nos "deram" voltou à base com uma boa margem. E agora pagamos os juros. E levamos uma lição de moral - Timeo Germanos et dona ferentes. Porque não pararam quando as nossas finanças já estavam um caco?
O post é infeliz e o link é para um artigo estúpido. Os hábitos não estão a mudar por melhor educação nutricional, mas por asfixia financeira.
Lidl e marmita? Por opção, certamente. Assim? Os sulistas preguiçosos e os do norte virtuosos, finalmente estamos a aprender a ter maneiras, nhá nhá nhá.
Não sou seu amigo, nem a conheço. Passo por este blog de quando em vez para desempoeirar o espírito. Não esperava isto.
PS
Fui uma vez ao Lidl e vi uns iogurtes muito giros que não precisavam de frio. Depois de ler a composição fiquei a saber que eram sobretudo gelatina.

Disclaimer: a minha cozinha é Míele, o meu carro um Mercedes, as torneiras Grohe, as canetas Rotring, o relógio Lange, e haverá mais nesta lista. O que os alemães fazem, fazem com extrema competência. Mesmo o mal.