Passa com a mochila às costas todos os dias à minha porta. Detém-se em festas ao Spotty. Deve ter uns catorze ou quinze anitos no corpo adolescente desengonçado. Aqui há umas semanas, abri a janela e falei-lhe. Disse-lhe como se chama o cãozinho a que ele dá festas todos os dias. Ao fim de tantos meses de fidelidades mútuas ficou a saber o nome do amigo que já sabe quando ele está para vir.
- Gostas do Spotty? - Perguntei, sabendo que sim.
- Sim, lembra-me o meu cão. - Respondeu com os olhos cravados no bicho enquanto lhe continuava a dar festas.
- Então tens um cão parecido com o Spotty?
- Não.
- Então?
- Tive, mas morreu.
- Foi? E foi há muito tempo?
- Sim.
- Há quanto?
- Eu tinha dois anos.
Enterneci-me mornamente. Pensei num miudito da idade do meu sobrinho a brincar com um cão e como isso lhe ficou na memória afectiva. Quase me apeteceu dar-lhe o Spotty num assomo de ternura partilhada. A vida, porém, não se compadece com estes momentos e esse apetecimento não teria um bom resultado. Presumo que o miúdo viva num apartamento e que os pais não aprovassem o meu presente. Calei o impulso e fiquei a pensar que lembranças o meu sobrinho terá um dia do cãozinho branco super feliz de quem ele se despede:
- Bye, bye, Spot, ca-cão.
Ontem o miúdo passou por aqui. Trazia um colega. Fizeram festas ao Spotty. Encostaram-lhe o rosto por entre as grades do portão e esperaram lambidelas contentes. Não abri a janela...
3 comentários:
Wie schön :)
Acredito piamente que as crianças que convivem com cães são mais felizes que as outras. Mesmo que sejam cães emprestados, de passagem.
P.S. Não dês o Spotty! Ele ia sentir terrivelmente a tua falta!
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