9 de agosto de 2015

Dia 8: Alexandria (Louisiana) e o meu ex-não-casamento

Há esta série:
Sou fã. Passa no Canal História e é sobre a família DeRamus e a sua loja de penhores em Alexandria, no coração do Louisiana a trezentos e muitos quilómetros a noroeste de Nova Orleans. Mas já lá vamos.
O que uma road trip tem de excitante é nunca se saber como será o dia que amanhece. Tem sido assim. Vir sem hotéis marcados dá uma liberdade imensa para se fazer o que se quer e ir onde apetece. Porém, não vou dizer que não queria ir a Alexandria e que não trazia um propósito escondido para esta viagem. Trazia. E trazia-o na bagagem, bem almofadadinho para não se partir, já que ia conhecer o seu destino nesta terra e bem longe da minha vida comum. Ei-lo:
O topo do meu bolo de não-casamento e pior divórcio. Trouxe-o comigo desde Portugal para lhe dar um tremendo destino de ironia e distância. Levei-o à casa de penhores dos DeRamus em Alexandria, Louisiana, a casa com o General Lee dos Dukes of Hazard à porta. Estava lá, o General Lee, e  estavam lá os DeRamus:  pai, filha e irmão do pai, a trindade. Não sabia se estariam lá. E se estivessem e não fossem simpáticos como na série? Puro engano.
- Please tell me I'm the first Portuguese to walk in through the door?
-You're the first Portuguese to walk in through the door. Yes, M'am!
Trataram-me como royalty. Contaram-me a ascendência e as histórias da vida como se eu fosse próxima da vida deles.
Disse-lhes que trazia uma coisa, just for the fun of it.
- Hmm... the top of your wedding cake.
- My first and ex-wedding cake - corrijo entre os risos que a situação provoca.
- So that's how bad you want to get rid of it, hum?
Entra na personagem e logo me faz viver a cena típica dos episódios.
- And do you want to pawn it or sell it?
- Sell it!
E quanto quer pelo objecto?
- Five cents.
Chama a filha para avaliar o objecto e brincamos à série por uns instantes de maravilha regada a riso.
No final... e ao contrário da série, em que nunca dá o que lhe pedem pelos objectos, faz-me uma oferta de dez dólares.
Fico meia aparvalhada porque eu sairia da loja feliz deixando lá o mono desgraçado por um cêntimo, ou por nada, o mono é que eu não traria de volta. Jamais. Antes atirá-lo ao Mississippi.
- I take it! - Exclamo na perplexidade, enquanto a verbalização do pensamento veloz assume forma oral:
- My marriage was worth ten bucks.
E é isso, o meu casamento valeu dez dólares numa loja de penhores no fim do mundo num dia de 39º à sombra.
Para os anais da história, as provas do crime:


E é assim que o mono que encimou o bolo do meu mui infeliz não-casamento conheceu o seu destino longe de mim. Os DeRamus dizem que não vão vendê-lo e que o vão juntar à sua exposição de coisas não vendáveis na sua loja: a Silver Dollar na Lee Street em Alexandria. Da próxima vez que lá passarem, o mono de noivos parvos e ridiculamente felizes veio de Portugal, não viveu feliz para sempre e a noiva ganhou juízo e chama-se Blonde. Deu um chuto ao noivo e vendeu o mono por duas notas de cinco. Goodbye and good riddance!

To the DeRamus family, my heartfelt gratitude for an afternoon well-spent; the definite highlight of the day. You're the gem of Louisiana. God bless!

(PS - Naturalmente, este post só podia ter duas tags: Diários de Viagem e Diários de um Divórcio.)

3 comentários:

Dalma disse...

Eu que tenho um casamento feliz de 46 anos adorei este seu "happy end"!

Ältere Leute disse...

Uma ideia genial destas só podia vir da Blonde !
Aqui na ponta ocidental da Europa, um casal prestes a celebrar 53 anos divertiu-se muito com a história !

Cristina Torrão disse...

Cool! :-)