O rito é uma forma de comportamento circular que o Homem inventou para se sentir pertença, para se sentir seguro, para dar sentido à existência. Com a Ältere Leute partilho um rito há muitos anos e, quando o deixarmos de fazer, acho que algo verdadeiramente derradeiro terá acontecido a uma de nós.
Ultimamente andamos de poiso fixo, o que até nem é mau e ajuda à previsibilidade ritualista. Ademais, é um daqueles sítios em que ainda se pode conversar sem que o tudo exterior se sobreponha ao som da nossa conversa. Momentos fantásticos, sempre. Pomos a conversa em dia como se nos tivéssemos visto no dia anterior e nunca nos falta o que tagarelar.
Por coincidências do local, este ano apresentou-me a alguém do seu círculo:
- Esta é a minha Blonde.
E eu detive-me no pronome, sorrindo. Já não é primeira vez que me faz destas inclusões e me coloca mais uma entre "as minhas meninas". É recíproco o possessivo porque ela é minha, muitas coisas. Começou por ser minha orientadora e agora é minha amiga e minha companheira de partilhas. Engraçado, falámos da Zana, que ela conheceu através de mim e, aqui há dias, a Zana veio visitar-me de Natal e falámos da Ältere Leute.
- É tão interessante que tenham ficado amigas - diz-me na constatação de que ninguém desenvolve este tipo de amizades com ex-professores, ex-orientadores. - E parece-me ser tão boa pessoa - acrescenta baseada na sua própria experiência de interagir com ela através destes meios digitais e destas comunidades net modernas.
- É - sorrio. - Se é!
Deu-me um prato pintado à mão na nossa troca de presentes da época.
- Für Plätzchen - entregou-me a sorrir.
E serviu para os ditos cujos. Estreei o prato na mesa dos doces de Natal devidamente preenchido com Speisekuchen de chocolate em forma de coração: ein Herz für Freundschaft.
Quando cheguei a casa vinda do nosso encontro mandei-lhe um SMS a dizer que tinha chegado e que tinha adorado estarmos juntas e... agradeci-lhe ter aprendido algo com ela.
- Aprender?! - foi o SMS de retorno.
Sim, aprender. Este ano ela viu-me na felicidade plena do divórcio maldito acabado, da vida sorridente que se manifesta na ausência de textos mais densos neste blogue-diário de muitas dores nas curvas da estrada.
- As pessoas felizes não têm história - disse-me quando falámos desta minha fase de vida. Concordo. A felicidade não traz introspecção, nem profundidade emocional. A felicidade faz-me fazer trabalhos manuais e passar o tempo sem pensar na vida e isso não dá história. Vê como aprendo consigo sempre, e como me faz pensar em coisas tantas, e tantas vezes? Respondi ao SMS?
Obrigada, minha querida Ältere Leute! Venha 2016 e venham mais vezes de ritual.
1 comentário:
E que comentário poderia/ poderei eu fazer ? Está tudo dito e por demais... Mas gratificante É ! MUITO, MUITO...
Que continue a "não ter história" ! Mas que tenhamos sempre "histórias" para (nos) contarmos !
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