17 de novembro de 2016

Dia 7: Subir ao pico de Sandia

Os meus padrinhos norte-americanos que, neste momento ainda são só amigos e sê-lo-ão num futuro próximo (aguardem para ver), disseram-me para não perder uma subida de teleférico ao Pico de Sandia quando eu estivesse na zona de Albuquerque. Sigo a dica.
Sandia significa melancia em espanhol. Parece que os conquistadores espanhóis que primeiro ali chegaram olharam para a montanha ao pôr-do-sol e, vendo o encarniçado que lhe emprestava na pedra o ocaso, decidiram chamar-lhe "Sandia". Faço a tradução e concluo que "Sandia" me soa melhor do que "Melancia" ou "Watermelon", nomes pouco inspirados para um portento destes.

Nunca me dei bem com alturas (ia-me afogando no Mar Vermelho a mergulhar nos recifes de coral, não por causa do mar mas porque a água cristalina me dava a sensação de vertigem quando olhava para baixo para os corais, caí de um simulador na NASA só porque vi a Terra a 300kms abaixo de mim e devo ser a única pessoa que caiu do sótão da própria casa só porque olhou para baixo). Detesto teleféricos e nunca apreciei esqui por causa desse pequeno pormenor. Cá de baixo, olho para cima para o que me espera e engulo o medo das alturas. A curiosidade e a superação do medo sempre levaram a melhor e eu sempre me gostei de vencer a mim própria. Entro no teleférico mais longo dos Estados Unidos que me vai levar a uma altitude de 3.163m e tento esquecer-me das vertigens (não ajuda muito porque o condutor do teleférico vai o caminho todo a dizer que todos os dias desmaia alguém naquela ascensão). Fugazmente parece-me estar numa Suíça seca. O panorama é familiarmente alpino e simultaneamente pouco europeu. Aprecio o paradoxo para me abstrair da altura e do facto de que, por muitos sistemas redundantes de segurança que existam naquele teleférico, há só um cabo de aço entre mim e a queda livre.
Chego ao cume da montanha e a meus pés estende-se a vastidão plana do Novo México e do vale que o Rio Grande aplanou ao longo de milhões de anos. Sinto falta de sinónimos que me digam imensidão e vastidão porque há muito que os esgotei nesta viagem aos grandes espaços abertos. A vista panorâmica, fico a saber, apenas vislumbra 9% do território do Novo México, uma insignificância e, transportando-me à escala portuguesa, imagino que visão teríamos se a Serra da Estrela tivesse um cume de vistas desafogadas a três mil e tal metros altitude. Talvez víssemos Portugal inteiro até ao Atlântico e Espanha para lá da Raia.
Do lado menos a pique do cume, uma estância de esqui fechada para o Verão, a Suíça numa latitude meridional e transatlântica. Não me inspira tanto como a vista para a planície do outro lado. Tiro as fotos da praxe, leio os letreiros de "Cuidado com os Ursos" e "Não Dê Comida aos Ursos". Inspiro o ar fresco da montanha e preparo-me para a descida. Segui um bom conselho de um bom amigo e é mais um pedaço do Oeste que levo nos olhos.

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