1 de dezembro de 2016

Dia 8: Taos Pueblo

Finalmente chego. O Novo México é o estado dos Estados Unidos com mais atribuições UNESCO, três. Irei a todas, determino. Já estive nas Carlsbad Caverns a confirmar porque é que são Património da Humanidade e agora chego a Taos Pueblo cheia de curiosidade e expectativa.
Taos Pueblo é o símbolo máximo da cultura pueblo, as tribos nativas-americanas sedentárias que cultivavam os campos e construíam casas de adobe. Taos pertence aos Red Willow People (Povo do Salgueiro-Encarnado) e é totalmente administrado por ele.
Trago na mente as fotos que vi na net, as descrições da história deste povo. Venho curiosa e... de pé atrás. Em muitas outras ocasiões já vi o que é a cultura nativa ser apropriada para o turismo sem que os efeitos dessa apropriação sejam positivos. Ainda o ano passado saí disparada e sem vontade de nada da Reserva dos Miccosukee na Flórida. O artificialismo dá-me nojo real mas, no caso de Taos, venho com a esperança que uma denominação UNESCO seja motivo de preservação cultural e identitária.
Pago os dezasseis dólares de admissão (esperando que o dinheiro seja usado para a manutenção da aldeia) e espero, porque continuo a querer ter essa esperança, que as minhas expectativas não sejam os meus receios.
Tive a mesmíssima sensação nas pirâmides no Egipto. A vandalização do passado é brutal. O turismo uma violação. Olho em busca das imagens que trago na mente só para perceber que as fotos da publicidade são manipuladas. Nenhuma das minhas fotos se compara remotamente às fotos dos anúncios porque os meus olhos não vêem nada parecido com os anúncios. Vejo pobreza. Cães escanzelados. águas despejadas nas ruas. Carros e mobílias velhas ao abandono. Turistas lânguidos e desinteressados. Nativos-americanos lânguidos e desinteressados. Ainda entro em algumas casas à procura de algo autêntico. Todas são lojas que vendem os pseudo-artesanatos para turista levar. Quero tentar-me por alguma coisa mas não consigo. Queria levar algo de Taos que me ligasse a uma civilização original e autêntica mas não há nada que opere essa ligação.
 Numa casa já ao final da minha visita encontro dois ursinhos de barro preto abraçados. Lembram-me os ursos das histórias de Jackie, O Urso de Talak que eu via quando era miúda. A dona da loja vê-me a apreciar os ursos e diz-me que são o símbolo nativo para o amor entre irmãs. Encontro a ponte entre Taos e eu. Mando embrulhar os ursos em papel plástico de bolhinhas. Perguntam-me de onde venho. Digo que venho do Texas:
- Ah, that is far. - Oiço em resposta antes de acrescentar que venho da Europa. Ficam em silêncio quando ouvem a minha real proveniência. O que pensariam se lhes dissesse Portugal?
Deixo Taos feliz por ter vindo e feliz por partir. A devassidão molesta-me mas a curiosidade saciada preenche-me a cabeça. Acho que a UNESCO não chegará para salvar Taos do que aconteceu ao povo nativo-americano. Coisas da História que a História fez e o presente não emenda. Cheguei, vi e parti. Tenho, porque tenho de ter, esperança que a minha próxima paragem em território nativo não me decepcione ou não me fira...

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