4 de janeiro de 2017

Dia 9: Chaco

Depois de horas de estrada acidentada surge no nada da paisagem árida a monumentalidade de Chaco. Perfeitamente camufladas, as ruínas são unas com a paisagem mal se distinguindo das rochas que as envolvem. Sinto-me instantaneamente transportada a outras eras e espaços e sinto a sacralidade que paira como aura e alma deste sítio. Inspiro o ar antigo. Há locais assim, mortos mas vivos. Locais passados que perduram mesmo quando a sua existência é uma sombra ténue do que foram. Assim é Chaco.
Há qualquer coisa de egípcio e de andino nestas ruínas misteriosas. Pouco se sabe desta civilização perdida. Percorro as salas da Grande Casa imaginando o que poderiam ter sido. Passo as mãos pelas paredes tocando as pedras perfeitamente ajustadas. Que tecnologia terá erigido estas construções? Que propósitos terão tido? Chaco é, afinal, um conjunto de povoados dispersos por este vale remoto, construídos seguindo o maciço rochoso com o qual se fundem. Quem habitou aqui?
As questões sem resposta fazem-me gostar ainda mais deste local de antiguidade. Perco-me em pensamentos convocados pelas imagens que me chegam aos olhos. A distância e os acessos deploráveis fazem de Chaco uma maravilha ainda pouco enxameada por turistas.
- O, you're my first Portugals! - Oiço na voz entre o perplexo e o quase histérico da funcionária do parque. Trabalha aqui há 25 anos e nunca recebeu visitantes de Portugal. Sorrio na complacência de que, pelo menos, sabe onde é Portugal ainda que não saiba o gentílico do país.
No walkie-talkie da ranger do parque escuto o alerta de que a entrada sul do parque acaba de ficar intransitável. As chuvas repentinas e grossas causaram uma daquelas inundações súbitas e o acesso ficou submerso. Olho para o céu a apurar se vem aí tempestade. Talvez... Despeço-me de Chaco já com saudades e peço a não sei quem ou quê, talvez à alma antiga que aqui habita, que os acessos difíceis continuem a deixar em paz este local. À minha frente duas horas da mesma estrada sem ser estrada que me levarão de regresso ao meu tempo. Peço também que não chova antes de eu chegar ao asfalto distante...

1 comentário:

Dalma disse...

Já estava a temer que o diário dessa aventura pelo sul dos US não continuasse. Continuo curiosa...
D.