7 de janeiro de 2017

Dia 9: Ir dormir a Bloomfield

Deixo as ruínas de Chaco de olho posto nos céus em busca de nuvens suspeitas. 21 milhas de estrada selvagem separam-me do asfalto que me diz que cheguei ao meu mundo. São 21 milhas que levam quase duas horas a desfazer. Se chover em tempestade não há fuga, nem abrigo, nem auxílio. A civilização do presente está longe.
Há qualquer coisa de instinto primevo quando nos encontramos assim sem rede. É uma adrenalina de excitação e receio que nos vicia e nos faz regressar a mais perto de nós. Vou olhando para as nuvens e para o solo desértico incapaz de me decidir pelo céu ou pela terra. Aqui, não há preocupações mundanas de horários, agendas, compromissos e responsabilidades. Aqui, apenas me preocupo com a eventualidade da tromba de água repentina e nada mais. Quão libertadora não é esta preocupação?
E, por fim, o asfalto. Mais uma hora de condução até Bloomfield, cidadezinha de interior cuja existência eu desconhecia até ontem e que me vai servir de pernoita aqui na vasta imensidão do interior americano. Durmo sob as ruínas de Chaco e descanso em paz.

1 comentário:

Dalma disse...

As imensidões vazias também me atraem, para ser sincera, atraiam, isto antes do Death Valley. Agora fico sempre receosa...