Já tinha estado em Kingman, no Arizona, há uns anos. De passagem e já nessa altura me pareceu o que agora me parece: uma espécie de Entroncamento cá do sítio. A Route 66 vem dar aqui mas é uma Route 66 descaracterizada, uma espécie de via rápida que chega a um aglomerado urbano desconexo e asfixiado por camiões e trânsito que surge não sei de onde mas que para aqui converge como convergem todos os comboios e vagões e vias férreas, ou assim me parece.
Seligman era uma coisa turística que vive à custa da Route 66. Aqui, a Route 66 está metida à força numa espécie de downtown onde uns diners e um museu tentam dar uns arremedos de qualquer coisa passada que deve ter sido importante e que vive mais de imaginários do que de realidades presentes.
Fico num hotel rockabilly pretensamente nostálgico, pretensamente decadente como uma música da Lana Del Rey onde uma trupe de franceses tenta fazer-se entender por entre "rs" assanhados e cara de quem está perdido e miserável por não fazer nada desta América que não é exactamente como a dos filmes mesmo que, às vezes, seja um pouco ou muito como nos filmes. Detenho-me a dar uma volta por este hotel, pelo jardim e pelos meandros de blocos de quartos e salas e o restaurante que querem à viva força fazer-se genuínos e herdeiros do espírito da Route 66. Não conseguem. Mas nesse pastiche talvez, afinal, consigam a genuidade. Na minha mente toca uma canção do Chris Isaak.
1 comentário:
Enfim é a Route 66 com os desencantos relatados pelo tal livro que os nossos filhos nos ofereceram e de que aqui falei.
Imagino que a segui até Santa Mónica e aí, algures na marginal, terá encontrado o típico poste onde se acrescentou "end of the trail"!
P.s. muito interessante a sua perspectiva de ver as coisas e da forma do seu relato.
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