20 de março de 2017

Dia 15: O bom de casar em Vegas

Tirando duas pessoas em Portugal e duas nos Estados Unidos, uma destas últimas a que me tomou a decisão de eu me casar, ninguém sabia que eu ia fazer uma coisa destas. Aliás, já a viagem estava marcada e nem eu sabia que ia casar (pois sim, eu casar?! só se estivesse doida varrida e chalupa! jamais!, prometido a pés juntos. nunca!). Não é surpreendente a vida?
O email chegou num dia banal: "Devias casar", dizia enquanto acrescentava, "irei a qualquer lugar no mundo to give you away". Fechei o email. Marquei não lido e esperei que o tempo me dissesse algo. Casar estava-me na gaveta fechada do nunca mais. Só que eu amo e respeito (talvez até o tenha num pedestal) o homem me enviou o email e não o queria desapontar. Engraçada esta coisa de casar para não desapontar terceiros. E onde estava nesta equação estranha o homem com quem me diziam para casar? O homem com quem agora me diziam para casar dar-me-ia a liberdade do não e do sim. Já me tinha dado a liberdade do não. Um não por cada anel que me deu quando me pedia sim. Três. Deixei o coração falar com a mente para trocarem ideias sobre aquele mail. Talvez chegassem a um entendimento
"Ok, caso," respondi ao email. "Passo por Las Vegas e se quiseres vem lá ter comigo para me levares ao altar." E foi assim que decidi o meu novo casamento na condição de nada ter a ver com o primeiro e, já agora, e porque seria em Vegas, que não fosse o Elvis a casar-me numa pimbalhice qualquer sem graça e elegância porque eu tenho alergia às coisas sem graça e elegância.
Contratei uma wedding planner e disse-lhe que preparasse tudo para que o tudo estivesse pronto à minha espera quando eu chegasse para o grande momento. Não queria chatices, não queria pensar que me ia casar. No dia antes de embarcar para a América comprei um mini-vestido tipo Jackie O e levei o colar da Mãe, o colar dos anos sessenta que lhe assentava tão bem e que calhava bem com o vestido.
Casei sob um belvedere de verduras plásticas à sombra de 45ºC e aspersores refrescantes. Quem me enviou o mail levou-me ao altar e escolheu a música de entrada, se era para "give me away" pois que o fizesse em pleno, que escolhesse a música e me libertasse das chatices de preparar o meu próprio casamento, pois essas eu não as queria. não, nunca e jamais! No público apenas a wedding planner que chorou a rodos por chorar sempre em casamentos. Entrámos de braço dado ao som da música que ele escolheu. Deu-me ao homem bom, de olhos mansos e coração paciente que me recebeu. Em cinco minutos o sim pronunciado "Yes, I do" e a audição, como num filme, do clássico "By the power invested in me by the State of Nevada, I pronounce you husband and wife". "Wife..." Bateu fundo. Olho para o homem a que a lei daquela terra estrangeira me faz marido e percebo o que fiz. Aterro na minha vida e reparo que sou infinitamente feliz.
Chego ao hotel, onde ninguém sabia que eu ia casar e há champanhe e morangos com chocolate e uma carta da gerência escrita à mão a dizer como descobriram que eu ia casar. Isto só mesmo em Las Vegas, penso.
O bom de casar em Vegas? Para mim, foi o bom de um dia feliz, o primeiro, por fim, da minha vida. Não quis casar. Não fiz nada para me casar. Pensaram por mim que eu haveria de casar e eu casei. No sítio mais insuspeito no mundo, perante as testemunhas mais insuspeitas no mundo, o casamento mais insuspeito do mundo. Isto só mesmo em Las Vegas ou, então, isto só mesmo numa vida feliz...

3 comentários:

Dalma disse...

Interessante! Que a vida lhes seja doce!

Dalma disse...

Envio o link porque já aqui falou dele como seu amigo?

http://www.bbc.com/news/science-environment-39348150

Goldfish disse...

Ora desta não estava à espera! Depois do calvário-divórcio, espero também ir sabendo da felicidade do casamento (pós-Vegas, bem entendido). E ia-me esquecendo: felicidades!