A procissão veio inesperada. Estando aqui na Semana Santa e sabendo da devoção espanhola por esta quadra, não era bem por ela que aqui estava. Só que, estando aqui, é impossível escapar. O mar de gente é monumental. O ambiente da procissão lúgubre, e a palavra é um claro eufemismo. Chega a arrepiar a insistência na penitência, no sofrimento martirizado e martirizador.
Católica, romana, apostólica, não deixo, paradoxalmente, de observar na distância da terceira pessoa. Aquele Jesus tão ensaguentado do chicote, a cruz tão pesada e a mortificação da carne doem-me na alma e nos olhos que vêem. A ressurreição parece-me ausente deste culto da morte pelo suplício. Creio na ressurreição, não na morte. Perguntar-me-ão se quero os horários das procissões diárias desta Semana. Não. Recolho-me em pensamentos de Vida, de renovação e perpétuas circularidades que no-la trazem. Creio em fénixes e Cristos ressurectos. A morte só pode ter importância como Vida.
Detenho-me na procissão. Respeito e observo. E porque respeito e observo, recolho-me e suspendo-me na fé. Uma procissão destas à sombra desta catedral e neste espaço de pedras tão antigas convoca o Divino e o transcendente. É uma experiência de Vida, uma experiência na vida...
1 comentário:
Tenho sempre dificuldade em entender esse tipo de manifestações de religiosidade, para mim não tem nada de espiritual!
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