E eu quase me esqueci. Lembrei-me há bocado, como num susto. E se eu me tenho esquecido?, foi o susto simultâneo ao susto de me ter lembrado mesmo a tempo.
O ano passado alguém me disse que eu me devia deixar de insistir nestas lembranças porque são dor e o relembrar do passado. Só que eu não quero esquecer. Que mal tem querer lembrar-me? Tudo bem que a morte da Mãe é dor infinita e inultrapassável mas a Mãe é a melhor coisa que me aconteceu na Vida e que me acontecerá num futuro a menos dezanove anos deste dia em 1998.
Engraçado pronunciar 1998. Um outro milénio, uma outra época. Também nós éramos outros e outra era eu. A Mãe ficou ali naquele tempo e naquela pessoa. Não se fez outra. Ali está, cristalizada para sempre naquela juventude que não envelheceu. Nunca penso como é que Ela estaria hoje. Não tenho essa curiosidade imaginativa. Olho-a como sempre a vi e endeuso-a como sempre a endeusei. Não há mal nestas memórias nem mal se em todos os dias de hoje eu me quiser lembrar Dela de uma forma diferente das vezes que me lembro Dela todos os dias e a todos os instantes.
Continuo a sentir a amputação, a orfandade e a tristeza de não a ter aqui connosco nesta dimensão. Sinto falta do seu toque quente e macio, do seu aroma morno que dizia um tudo Dela. Sinto uma falta enorme, como um vácuo, das nossas conversas que nunca mais se replicaram com ninguém, porque ninguém fala comigo com a profundidade de inteligência com que Ela falava. Há coisas que morreram com Ela e são incapazes de ressurreição. O espaço Dela pertence-lhe em absoluto e eu alegro-me por ter esta Mãe insubstituível. Se eu devia de me deixar destas lembranças? Claro que não. A minha Mãe é a maravilha da minha vida e isso traz-me felicidade mesmo que a dor nunca se arrede...
1 comentário:
É o mesmo sentir que tenho quanto a minha querida avó Mila. Eu que me acho capaz de escrever sobre muitas coisa lá no meu blog, nunca o consegui fazer sobre ela, ela que já me deixou há 32anos!
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