O Alentejo veio em descoberta tardia. É uma das coisas que devo ao meu infame divórcio. Foi durante aquela travessia que, felizmente, me trouxe à liberdade que descobri este pedaço grande de chão e céu. Tenho sempre vontade de regressar. Gosto de tudo. Não me importo de repetir. É um Sul que me chama e de cujo chamamento eu gosto. E eu, já se sabe, amo o Sul e todos os "Suis". Às vezes perguntam-me onde, no planeta que conheço, eu gostava de ter uma casa sem ser esta que tenho, no sítio onde tenho e que não troco por nada. Costumava responder na "Flórida" ou na Ilha de Rodes na Grécia até ter conhecido o Alentejo. O Alentejo... A planície sem fim e a paisagem mediterrânica, as cigarras em alta-voz, as cegonhas, o calor mole e os pores-de-sol em céu infinito, Espanha para lá do horizonte, gaspacho ao jantar e as rectas emolduradas por sobreiros descascados e tronco cobre-vivo.
Fui de passeio a Évora a pretextos de almoço. Não que precise de pretexto para passear, mas um pretexto dá um objectivo e o objectivo cria expectativa que, por sua vez, confere ganas e alento e assim lá fui a Évora. Conheço bem e, de cada vez, é como se não conhecesse que é para não cair na rotina dos sítios conhecidos que de tanto vermos deixamos de ver. E lá fui pelos becos e vielas da cidade-património sorrindo a imaginar a alma de povo que baptiza as ruas com imaginação tão popular e folclórica. Abençoado povo que se engrandece pela, e na, despretensão.
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