Quando chego a Málaga, à uma e tal da madrugada, já está aberto o check-in para o voo de regresso. Vão ser 48 horas velozes, frenéticas. Quando chego ao aeroporto de Lisboa para embarcar rumo a Málaga no avião da noite até o cheiro a aeroporto me incomoda. Incomoda-me os controlos de segurança, as vistorias constantes à minha pessoa passageira. Incomoda-me a "turistagem" (eu que tantas vezes o sou). Incomoda-me as esperas, os portões de embarque, a viagem em si. Numa palavra: "Ugh!"
O avião que faz a ligação Lisboa-Málaga é um autocarro pequenino e claustrofóbico de duas hélices. A meu lado e à minha volta, um grupo de sete espanholas muito audíveis que vieram passar uns dias a Lisboa. No meu colo uma tese de doutoramento de 3kgs que eu não enfiei na mala porque a guardo com a vida denuncia-me e em menos de nada a espanhola ao meu lado mete conversa, a conversa que vai durar os 75 minutos do voo. Antes de me dar conta, fui adoptada pelo grupo. Uma vez por ano fazem uma viagem na qual é proibido falar de filhos e maridos. Dão-me dicas do que fazer em Málaga como se eu lá fosse estar uma semana. Escrevem nomes de restaurantes, de vinhos e comidas, de monumentos, de esplanadas, de terrazas, de tudo o que lhes diz Málaga.
- Pero sólo tengo dos dias! - nem ouvem. E assim passo o voo, metida nas suas conversas e parte da algazarra geral que é viajar no meio de nuestros hermanos, tão vocais, tão animados.
Aterro num aeroporto onde o alemão domina e penso, como muitas vezes já pensei noutros locais idênticos e dominados pelo turismo, o que pensarão os nativos quando a sua língua se submete a idiomas de visitantes. Ainda pintam o espanhol numa cor diferente mas não deixa de ser a terceira língua. Imagino-me já numa cidade Birkenstock, mochilas às costas e turistas nos seus anos dourados em busca de sol. Adiante.
Depois das obrigações que aqui me trazem, tenho umas breves horas para ver a cidade a passo rápido. Turista. Seja. Deambulo por uma cidade tipicamente andaluz e tão diferente das cidades onde estive há meia dúzia de dias em Castela-Leão. O céu é baço e a cidade incaracterística nos seus prédios altos, no grafitti gigante e omnipresente, nas beatas no chão. Tento encontrar algo que dê a meus olhos a alma de Málaga nesta hora de ponta tardia da saída de trabalhos e empregos em que me misturo na rua com os malaguenhos que esperam autocarros e andam apressados no regresso a casa. Vou em contra-mão. Eles saem do centro da cidade, eu vou para o centro.
Procuro o casco histórico da cidade e, bem à frente da catedral inacabada da Málaga, La Manquita, por lhe faltar uma das torres, depara-mo com uma manifestação LGBT em fase de debanda. Noto a ironia, quiçá propositada. A cidade vai parando e eu ainda a quero conhecer.
A cidade vai parando e eu com pressa de conhecê-la...
1 comentário:
Detesto viajar em aviões pequenos! Saída da faculdade, viajei num desses, a hélice, para Paris, tudo gente nova numa viagem que demorou 4 horas!! O avião era fretado por uma agência de viagens para estudantes, tremia por todos os lados e dava a sensação que "metia ar" por algum lado, tal era o frio. Uff!
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