13 de outubro de 2017

Dia 4: Ammersee e uma tempestade

O sol põe-se quando chegamos a Ammersee. Apesar da latitude, há qualquer coisa mediterrânica neste local. O lago plácido polvilhado de barquinhos de recreio lembra as costas veraneantes do Mediterrâneo e um restaurante italiano debruçado sobre a água ajuda à comparação. No terraço do restaurante, um papelinho com o meu nome escrito entre o francês e o alemão indica a mesa que reservei para o jantar. Comigo o meu marido e os padrinhos americanos que nos casaram o ano passado em Las Vegas. Noto a internacionalidade da cena: o restaurante italiano no lago alemão, o meu marido português, os padrinhos made in USA e o meu hibridismo luso-germânico numa paisagem que lembra o Sul. Sentamo-nos contemplando o lago tingido dos laranjas do ocaso.
Ao longe, nuvens de trovoada. Pergunto se não seria melhor irmos para uma mesa dentro de portas.
- Nein, aqui só chove se fizer vento - garante-me a dona do restaurante. Acredito desconfiando.
Cinco minutos depois, o vento chega e, com ele, a chuva em pingos grossos e pesados. Levantamos âncora e vamos para dentro. A luz falha e falta. O vento ruge e uiva. Tudo abana e chego a pensar que um dilúvio e um ciclone levarão o restaurante e as árvores, cujas folhas e alguns ramos caem sobre o telhado. Apesar do barulho da tormenta continuamos o repasto que sabe a pesto e aos sabores meridionais da bella Italia.
É só quando acabamos o jantar e vamos para "casa" no nosso hotel em Starnberg, a vários quilómetros de distância, que tomamos consciência da enormidade da tempestade. Árvores tombadas cortam-nos o caminho. Abençoada era de GPS e carros inteligentes. No interior desta Alemanha profunda, não há luz nas estradas rurais. O vendaval encheu as vias de destroços de árvores. A chuva encharcou tudo e levamos mais de uma hora de aventura a chegar a Starnberg que também foi atingida pela inclemência.
No átrio do hotel, as moças da Recepção estão num desalinho de cabelos e roupas molhadas. Nas faces, um ar de perplexidade perante uma coisa daquelas. 36º de dia, uma enormidade pavorosa, e à noite aquela calamidade de água e vento. Nada normal. Amanhã queremos ir apreciar o estrago da noite...

1 comentário:

Dalma disse...


É a Física a funcionar: calor, muita vegetação, lagos e rios, logo grande evaporação e consequente subida de ar húmido; ar frio nas altas camadas, condensação e precipitação torrencial.
São, como sabe, a característica dos verões no coração da Europa... e não só!