Vir a Augsburg, além de um regalo para a vista e uma delícia para os ouvidos (de recomendar uma paragem na Fugger Platz em dia de sol: ao centro uma imponente estátua do Fugger, como não poderia deixar de ser, com a legenda "Patrono do Conhecimento", e a seus pés músicos, performers, espectáculos de rua dignos de salão nobre e das Belas-Artes), é, também, um encontro com uma importante faceta da denominada cultura Ocidental, a Reforma.
Em Augsburg, como por toda a Alemanha, convivem em paz as mais diversas denominações religiosas mas detenho-me, hoje, nas cristãs. Por toda a cidade erguem-se monumentos às mais várias confissões do Homo Christianus. Templos católicos convivem com a diversidade protestante. Entro em diversos. Como de hábito aprecio a luminosidade e leveza das igrejas católicas destas paragens. Aqui não reina a ênfase na Via Dolorosa e martirizada do Cristo como vemos no nosso Meridião. Aqui não é tanto o Cristo que impera, é mais o Jesus e isso agrada-me. Não percebo o culto da dor e do martírio. Jesus não é o crucificado, é o Salvador e é isso que me determina a visão religiosa. Causam-me pavor as igrejas em Espanha com os seus Cristos contorcidos em esgares agonizantes. Percebo uma antiga amiga da minha Mãe. Era muçulmana e um dia a Mãe quis mostrar-lhe uma das "nossas" igrejas. A amiga da minha Mãe saiu a correr aos brados de que estava um homem morto na igreja. Apavorou-se com o homem crucificado em tamanho real. Entendo. A mim também me causa confusão. Isto tudo para dizer que o horror mórbido está, por aqui, tão ausente das igrejas católicas como das protestantes que, por ortodoxia, são menos dadas à representação imagética do que as católicas.
Ora, para quem se detenha nestas considerações, vir a Augsburg implica não deixar para trás uma visita à Igreja de Santa Ana, mesmo atrás da Fugger Platz. Em primeiro lugar, é aqui que estão sepultados os Fugger, esses benfeitores da cidade. Em segundo lugar, foi aqui que ficou Martinho Lutero em 1518 durante o interrogatório perante o legado papal que lhe pediu para reverter caminho e submeter-se ao Papa. Na altura, a igreja estava consagrada à Ordem Carmelita porque, não esqueçamos, ainda não havia protestantismo nem Lutero tinha ganas de fundar qualquer novo credo. Vir aqui é entrar nas páginas dos livros de História e sentir o que aconteceu de tal fulgor que abalou a Civilização Ocidental com as consequências que lhe conhecemos.
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