O dia está glorioso. É um daqueles dias em que o sol aviva as cores e a temperatura quente não atinge os picos do desconforto. O verde é verde, pujante de clorofila. O azul, azul, límpido, limpo. Levo o meu marido a Chiemsee, o grande lago na Baviera oriental. À distância, e neste dia de claridade, o lago tem a profundidade do azul que reflecte um céu mais intenso do que o céu. Pontilhados brancos sobre as águas indicam velas de barcos de recreio. É uma imagem alegre por entre o verde envolvente. Nestas alturas é difícil perceber que a Alemanha é um país mega-industrializado. Pergunto-me muitas vezes como é que a Alemanha consegue este equilíbrio entre a industrialização e o idílio campestre, o campo bonito, sereno, pouco descaracterizado por mamarrachos e construção selvagem. Enfim, deixo estes pensamentos, para explicar ao meu marido porque o trago aqui.
O lago, além de magnífico e merecedor de visita só por si, tem dois fenomenais motivos que atraem aqui milhares de turistas todos os dias: Herren Insel (a Ilha dos Homens) e Frauen Insel (a Ilha das Mulheres), nomenclaturas que têm a ver com o facto de que havia um convento para frades numa das ilhas e, apropriadamente, um convento de freiras na outra. Herren Insel, no entanto, tornou-se conhecida ao associar-se à derradeira fantasia do Rei Ludwig II, o tal dos castelos. Foi aqui, na Ilha dos Homens, que Ludwig mandou construir uma réplica de Versailles.
Há vinte e não sei quantos anos, quando aqui vim pela primeira vez, não me lembro que houvesse tanta gente. Lembro-me que estava um dia entre o chuvoso e o soalheiro e que havia muitos turistas. Não me recordo, porém, que fosse esta avalanche. Temos de deixar o carro num dos inúmeros parques de estacionamento que circundam o lago e conseguimos o milagre, num dia destes apinhado de gente, de conseguir um lugar num dos parques mais próximos do cais de onde partem os barcos para as ilhas. Mal acreditamos na sorte.
Compramos bilhetes de ida e volta para a viagem longa, a que inclui as duas ilhas. Entramos no barco que, como nos surpreendemos, leva centenas de pessoas e lá vamos rumo a Herren Insel, onde o barco nos vomita para as bilheteiras do palácio Herrenchiemsee, a megalomania, vertida em construção, de Ludwig II e, provavelmente, a causa da sua morte prematura. Fila para as bilheteiras. Comprta das entradas e depois é seguir floresta dentro os quase dois quilómetros a pé até os nossos olhos se arregalarem com o colosso que emerge por detrás do arvoredo.
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