12 de junho de 2018

Hohenschwangau

Sem bilhetes para os dois castelos de todas as fantasias de encantar e resumindo-me aos últimos bilhetes para o que, infelizmente, se considera a segunda escolha entre ambos, apenas porque não é o castelo dos delírios mágicos das princesas Disney, subo a ladeira íngreme dos aventureiros que vão a pé ao castelo de Hohenschwangau. Cimeiro, entre os torreões, um cisne. Lembro-me de súbito que "Schwan" é cisne em alemão (tão parecido com o descendente inglês "swan", não?). Até Neuschwanstein tem "cisne" como étimo. A razão não se deve aos devaneios do Rei Ludwig II, normalmente creditado com a construção destes castelos. Já todos existiam. Ele só lhes deu os contornos oníricos e devaneantes que os afamaram. Aqui era a sede dos Cavaleiros de Schwangau, a vila no sopé dos castelos e o cisne o seu símbolo heráldico que, assim segue o mito, provém das lendas dos cavaleiros que buscaram o Santo Graal.
Vamos à história lendária. Lohengrin era filho de Parcifal, sim, o das lendas arturianas, e um dia aparece para salvar a princesa Elsa, filha do rei-morto de Brabant, que vive tormentos na sucessão ao pai. Ora, o valente Lohengrin aparece para salvar a donzela em perigo num barco puxado por um cisne. Luta com os oponentes de Elsa, instaura a princesa no trono e tudo acaba em bem com o cavaleiro a casar com a princesa sob a condição de ela nunca lhe perguntar a sua verdadeira identidade. Não esquecer que ele é um dos Cavaleiros do Graal e aquilo é tudo um bocado hermético aos comuns-mortais como nós. A vida corre bem até, claro, ao dia em que a princesa sucumbe à curiosidade, pergunta-lhe o proibido e ele desaparece até reaparecer mais tarde em versões de eremitas mais velhos que os séculos em episódios hollywoodescos de um Indiana Jones qualquer.
  No interior, Hohenschwangau é como qualquer castelo cujo propósito é ofuscar os sentidos (mas esperem que não é o castelo mais ofuscante que considero existir na Alemanha, mais se seguirá proximamente). Mais deslumbrante são as vistas que as janelas deixam entrar pelos nossos adentro: o Alpsee (o lago dos Alpes), a verdura envolvente das montanhas forradas a floresta, a planície lá em baixo com lagos pontilhados de pequenos pontos brancos de velas de barcos de recreio, estes azuis e verdes verdadeiros, vivos que nos impregnam as imagens na retina. Belo sem histerismo. Belo sereno.
A outra coisa que Hohenschwangau tem é proporcionar os pontos para as melhores imagens do majestosamente elegante Neuschwanstein. Novamente sucumbo ao impulso turístico e encho a máquina fotográfica (que ainda não transitei para os infames smartphones que pensam substituir o prazer da fotografia tirada com o aparelho convencional de tirar fotografias) de fotos de Neuschwanstein. Depois olhos para as hordas que se lhe dirigem e penso que há segundas escolhas que nos des-stressam das primeiras. Venham acabar aqui a Estrada Romântica e depois falamos...

1 comentário:

Dalma disse...

A partir do momento que os nossos filhos deixaram de ir connosco deixamos de ser turistas e torná-mo-nos viajantes, o que significa que a partir daí nos negamos a estar em uma qualquer bicha... Costumo dizer que já tive a minha dose de Museus e Catedrais, que já fiz fila para levar os filhos ver a Vitória de Samotracia, a Mona Lisa e outras raridades! Portanto hoje em dia tudo isso já não nos leva a aceitarmos esperas!
Há uns tempos alguém nos questionava sobre o que então fazíamos nas nossas viagens, já que não íamos ao sítios que toda a gente vai (nomearam alguns!).
Serenamente o meu marido respondeu: fazemos Geografia Física e Geografia Humana! Perante as dúvidas que as suas caras transmitiam, explicamos: Geografia Física quando olhamos e saboreamos as paisagens, Geografia Humana quando olhamos as pessoas que passam e os lugares que habitam!
Não fiquei a saber se nos compreenderam...